O comércio online de produtos para o campo disparou com a pandemia de covid-19. Sem poder conferir as novidades nas feiras agropecuárias, que foram canceladas, produtores migraram para a internet. Shoppings virtuais de marcas e revendas de produtos agropecuários, os marketplaces do setor projetam para 2020 quase o dobro da receita de 2019. A Agrofy, usada por fabricantes de máquinas, insumos e outros itens, deve movimentar mais de R$ 50 bilhões, ante R$ 28 bilhões no ano passado, segundo Rafael Sant’Anna, gerente de Negócios. “Só no primeiro semestre foram R$ 20,5 bilhões, contra R$ 4 bilhões há um ano.” A Orbia, marketplace cujos controladores são Bayer e Bravium, também prevê um salto nos negócios. O número de revendas de insumos e cerealistas com lojas no espaço deve passar dos atuais 100 para até 170 no fim do ano. Ivan Moreno, CEO da Orbia, espera que 2% a 5% da receita dos futuros parceiros, estimada em R$ 10 bilhões, seja gerada pela plataforma nos próximos 12 meses.
Antes e depois
As plataformas exclusivas para o agronegócio não são as únicas a registrar saltos nos negócios com o setor. A OLX, marketplace que atende diversos segmentos, verificou disparada das vendas em relação ao período pré-covid. Na última semana de junho, a procura por itens do agronegócio foi 79% superior à média das duas primeiras semanas de março. Os itens mais procurados foram animais e tratores.
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Sem medo
Moreno, da Orbia, conta que o distanciamento imposto pela pandemia intensificou tanto o interesse das empresas em vender online como dos produtores. “Sabemos que comprar insumos pela web não é tão usual para o produtor, mas a pandemia tem mudado isso.” Atenta ao movimento, a Orbia inaugurou este mês outro marketplace, de vendas de commodities por produtores, inicialmente exclusivo para soja. Até dezembro serão inclusos milho e café.
Em que pé?
Produtores, bancos e outros agentes estão “apreensivos” com a falta de notícias sobre a regulamentação das novas regras para o registro da Cédula de Produto Rural (CPR) determinado pela Lei do Agro. A partir de 1.º de janeiro, o registro do título usado por produtores para adquirir empréstimos deverá ser feito por entidades registradoras, como a B3, em plataforma única, e não mais em cartórios. Igor Rego, sócio em Mercado de Capitais do Cescon Barrieu, diz que o assunto está nas mãos do Conselho Monetário Nacional.
Plano B
Rego explica que o CMN precisa convocar audiência pública para debater os meios de viabilizar o sistema, o que ainda não foi feito. “Se não houver regulamentação até lá, acredito que ou o Executivo editará uma Medida Provisória adiando a implementação ou os produtores irão para as entidades registradoras”, afirma. “Mas continuaremos sem uma base de dados que auxilie no combate a irregularidades.”
Para além
A consultoria de gestão Bateleur prevê que o investimento em adubos e biotecnologia deve crescer na safra de soja 2020/21, assim como a área plantada. O estímulo vem de preços atrativos e venda antecipada em ritmo acelerado. “Para o produtor, quanto mais potencial de produzir além do que já está vendido, melhor”, diz Ernani Carvalho, sócio da Bateleur.
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Menos mal
Sobre possíveis reestruturações no agronegócio após a covid-19, a Bateleur, que também assessora fusões e aquisições, afirma que no agro a procura é menor que em outros segmentos. “Em alguns setores, fusão ou venda é questão de sobrevivência, mas no agro a pressão para isso é menor”, diz Carvalho, sobre os efeitos da pandemia em empresas de todos os segmentos.
Logo ali
Os planos da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) de contar com um escritório na Ásia saem do papel ainda este mês. A abertura da sede em Cingapura, que seria em março, foi adiada pela restrição à entrada de estrangeiros. Agora, Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa, obteve liberação e embarcará nas próximas semanas para comandar os trabalhos por lá.
Pertinho
A ideia é cravar a bandeira brasileira em outros países da Ásia, como Vietnã, Bangladesh, Indonésia e Coreia do Sul, diz Júlio Cézar Busato, vice-presidente da Abrapa. Henrique Snitcovski, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), lembra que os Estados Unidos há anos fazem marketing de sua pluma nesses países e chegou a vez do Brasil. “Queremos tornar o algodão brasileiro cada vez mais a primeira opção nos principais mercados exportadores”, diz Snitcovski.
Aquecida
O isolamento social no mundo, por causa da covid-19, abriu novos mercados para a M. Dias Branco. É o caso de El Salvador, para onde seguiram três carregamentos de massas – um deles de 2,4 mil toneladas. “Alguns países apresentaram dificuldades de atender à alta do consumo e recorreram ao mercado externo”, diz Gustavo Theodozio, vice-presidente de Investimentos e Controladoria da companhia.
Fonte: “Estadão”