São poucas as áreas em que a inovação pode ter um impacto tão grande quanto a da saúde. Por outro lado, por tratar da vida humana, os avanços tecnológicos nesse setor precisam ser acompanhados por uma quantidade especial de cautela. Foi para discutir sobre isso que especialistas se reuniram no Hackmed Conference, em São Paulo, na última sexta-feira, dia 31.
Segundo Jacson Barros, diretor do Departamento de Informática Médica do SUS, a tecnologia (especialmente a inteligência artificial) desempenha um papel importante na distribuição de informações. Um exemplo são os prontuários eletrônicos.
Jacson conta que, em alguns casos, o médico gasta até 16 minutos para inserir informações no sistema.
Para Paulo Hoff, diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, a dificuldade nos prontuários se deve à necessidade de parametrizar informações. Em cirurgias, cada aspecto do histórico cirúrgico precisa ser detalhado em um campo específico, o que toma tempo do profissional. O atendimento seria mais ágil se o médico pudesse escrever de forma livre, com uma tecnologia encarregada de interpretar e formatar as informações.
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Jacson Barros defende a integração entre sistemas de prontuários. Dessa forma, todo histórico de um paciente estaria disponível para o médico durante uma consulta, tornando o atendimento mais ágil e assertivo. Um projeto de lei em discussão no Congresso pretende ligar todos os estabelecimentos de saúde a uma rede nacional. A tal rede nacional já existe, e deve começar sua fase de testes em maio. Informações como histórico de atendimento, sumários de alta, prescrição de medicamentos, vacinas e exames estarão disponíveis para os profissionais de saúde.
Outro plano seria eliminar a necessidade do Cartão Nacional de Saúde para atendimentos no SUS. Em vez disso, as informações seriam reunidos no CPF do usuário. Mas o setor público ainda enfrenta muitas dificuldades para implementar a inovação. Contratar empresas privadas para desenvolver tecnologias, por exemplo, não é nada fácil. “Se você contrata alguém em âmbito nacional, as pessoas entram com uma ação que judicializa o processo”, diz Barros.
Outro problema é a gestão de recursos. Jacson Barros afirma que o Datasus, que é o departamento de informática do SUS, é um dos que mais recebe investimentos do Governo Federal. O problema é aplicar o dinheiro de forma eficiente. “Não falta dinheiro, tanto que o TCU está toda semana na minha sala. Precisamos usar com inteligência.”
Responsabilidade com os dados
Compartilhar dados pessoais dos pacientes pode melhorar a saúde, mas representa uma grande responsabilidade, afirma Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil.
A executiva afirma que a indústria pode fazer bom uso dos dados. Fabricantes de remédios poderiam medir com maior precisão a eficácia e os efeitos colaterais.
Para os estabelecimentos de saúde, conseguir ter acesso a esses dados de terapia também seria de suma importância. Assim, seria possível saber como está sendo o desfecho do paciente, como equipamentos estão se comportando durante o tratamento e se mais medidas seriam necessárias para garantir o bem-estar do usuário.
Inovação na iniciativa privada
A iniciativa privada é essencial para revolucionar o setor de saúde, diz Gisselle Ruiz Lanza, diretora geral da Intel Brasil. “A colaboração do ecossistema de startups vai ser muito importante.” As perspectivas são boas. Inaugurada nos Estados Unidos e na Coreia do SUl, a internet 5G terá papel vital para o desenvolvimento tecnológico.
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E já existem empresas de serviços médicos pioneiras nisso. Edgar Rizatti, diretor executivo do Laboratório de Exames Fleury, conta que usa inteligência artificial para auxiliar no diagnóstico de doenças, como a embolia pulmonar.
Algoritmos podem realizar uma busca nos resultados de exames laboratoriais e de imagem, combinando informações e sugerindo diagnósticos ao profissional de saúde. “A inteligência artificial consegue nos ajudar no diagnóstico de doenças isquêmicas do coração, por exemplo”, diz Rizatti.
O Hospital Sírio Libanês procura criar um banco de dados consistente e auxiliar o trabalho de cardiologistas, diz Paulo Chapchap, diretor geral da instituição. Com o auxílio da inteligência artificial na interpretação dos exames, o médico poderá dedicar mais tempo para conversar com o paciente. “Queremos levar o cardiologista de volta para perto dos pacientes”, diz.
Mas o executivo faz um alerta: toda inovação na área de saúde encontra resistência por parte dos médicos. Isso se dá por conta que esses profissionais priorizam segurança acima de tudo. Mas ele propôs uma solução. “Precisamos criar espaços apartados para testar esse tipo de tecnologia, de modo que os médicos consigam errar até que consigam dominar esses novos equipamentos”.
Fonte: “Época Negócios”