O Peru realizou no domingo, 6, o segundo turno de suas eleições presidenciais, em que disputam a conservadora e ex-congressista Keiko Fujimori e o professor Pedro Castillo, de esquerda.
No país, o voto é em cédulas de papel (as urnas eletrônicas foram testadas em eleições passadas, mas o sistema não foi adiante). A contagem dos votos é feita nacionalmente pelo ONPE, sigla em espanhol para Escritório Nacional de Processos Eleitorais do Peru, e o resultado é depois chancelado pelo JNE, órgão da Justiça Eleitoral que analisa também possíveis contestações.
Com 95% das urnas apuradas até às 21h desta segunda-feira, 7, Pedro Castillo tinha quase 100.000 votos de vantagem, mas com margem muito apertada, totalizando 50,3% dos votos totais. Assim, o resultado é incerto, e depende dos votos restantes a serem contabilizados nas zonas rurais do Peru (que favorecem Castillo) e no exterior (que favorecem Fujimori).
O presidente no Peru tem mandato de cinco anos e não pode ser reeleito pelas regras atuais. Veja como são realizadas as eleições no país e a contagem dos votos.
Apurações demoradas
No país sul-americano, de mais de 32 milhões de habitantes, as eleições costumam trazer uma dose particular de drama, à medida em que os votos em papel de lugares longínquos demoram mais a ser contabilizados. Nesta eleição, os votos de zonas mais afastadas — os que demoram mais a serem contabilizados — têm ficado com Castillo, enquanto Keiko venceu na região da capital Lima.
Ao contrário do que acontece no Brasil, onde os resultados saem no mesmo dia da votação, o Peru historicamente passa alguns dias após a eleição sem conhecer o vencedor oficial. A demora na contagem dos votos impacta sobretudo no caso de disputas apertadas, que só são decididas quando todos os votos são contabilizados.
Isso ocorreu também na última eleição presidencial, em 2016, quando o ex-banqueiro Pedro Pablo Kuczynski (o PPK) venceu a mesma Keiko Fujimori, na época também candidata. A eleição foi novamente apertada, com 50,12% para PPK e 49,88% para Fujimori.
Voto obrigatório
O voto no Peru é obrigatório, e quem não votar e justificar a ausência pode pagar multa, como no Brasil. Os valores das multas vão de 22 a 88 sóis peruanos (de cerca de 28 reais a 115 reais na cotação desta segunda-feira).
Nas últimas quatro eleições, a taxa de participação dos peruanos no segundo turno presidencial ficou em cerca de 80%, com um pico na eleição de 2006.
– 2016 (PPK vs. Keiko Fujimori): 80,09% de participação
– 2011 (Ollanta Humala vs. Keiko Fujimori): 82,54% de participação
– 2006 (Alan García vs. Ollanta Humala): 87,71% de participação
– 2001 (Alejandro Toledo vs. Alan García): 81,41% de participação
Para a eleição presidencial, há dois turnos caso nenhum candidato consiga a maioria dos votos válidos no primeiro turno. Na eleição deste ano, a crise política no Peru e um cenário em que boa parte das lideranças estava envolvida em escândalos de corrupção fez com que no primeiro turno o país tivesse nada menos que 18 candidatos na disputa, nenhum deles tendo mais de 20% dos votos nas pesquisas.
No primeiro turno, nenhum dos candidatos que chegou ao segundo turno teve o apoio da maioria do eleitorado: Castillo, que foi visto como o “azarão” da eleição e era até então praticamente desconhecido, venceu o primeiro turno com 18,9% votos, enquanto Fujimori teve 13,4%.
Contagem pelo país
O ONPE trabalha na eleição de 2021 com 104 centros onde os votos são contabilizados.
Na noite de domingo, 6, quando os primeiros votos começavam a ser divulgados, com ampla vantagem para Fujimori, Piero Corvetto, chefe do ONPE, lembrou nas redes sociais que os primeiros votos contabilizados eram os de locais mais próximos, a uma hora de distância dos centros de contagem, e que os resultados ainda poderiam mudar devido às condições geográficas do país.
Nas redes sociais, o perfil oficial do ONPE também pediu aos eleitores “tranquilidade, paciência e confiança”.
Votos no exterior
As atas do exterior só devem terminar de serem contabilizadas na terça ou quarta-feira, e devem mostrar vitória de Fujimori. Até agora, com pouco mais de 20% das urnas do exterior apuradas, Fujimori lidera com 62% dos votos.
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Há quase 1 milhão de eleitores peruanos vivendo no exterior, uma parcela pouco representativa, mas cujos votos tardios podem ser relevantes diante da disputa acirrada entre os dois candidatos. O maior número de eleitores peruanos no exterior está nos EUA, na Espanha, na Argentina, no Chile.
Ainda assim, a abstenção no exterior costuma ser alta. Na eleição de 2016, só 44% dos quase 885.000 eleitores hábeis a votar foram às urnas. Se isso se repetir nesta eleição, fica cada vez mais difícil para Fujimori tirar a diferença que Castillo vem construindo dentro do país, que já passa de 100.000 votos.
Fonte: “Exame”, 07/06/2021
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