O ensino de empreendedorismo é um tema que levanta diversas questões.
Desde que a carreira de empreendedor ganhou notoriedade, principalmente pela divulgação de histórias de sucesso, como a dos fundadores do Google, da Apple e do Facebook, universidades ao redor do mundo tem estudado e analisado quais as melhores maneiras de ensinar um aluno a se tornar dono de um grande negócio.
A discussão é difícil. A razão? Muitos dos empreendedores mais bem sucedidos, cujas histórias inspiram milhões de pessoas, não precisaram aprender a empreender formalmente. Os próprios fundadores de Google, Apple e Facebook largaram a faculdade para criar suas empresas.
O assunto foi tema de uma das palestras mais aguardadas do Congresso Global de Empreendedorismo, realizado em Medellin, na Colômbia. O americano Bill Aulet, diretor do departamento de empreendedorismo do MIT (Instituto de Tecnologia de Massaschusetts) falou a uma plateia lotada como a universidade conseguiu decifrar os caminhos do ensino do empreendedorismo e o que descobriu ao longo do caminho.
Existem tipos diferentes de empreendedores
Quando o empreendedorismo começou a despontar como opção de carreira entre universitários, acreditava-se que a educação empreendedora se dava, basicamente, pela pratica. “As universidades convidavam donos de negócios para fazer uma palestra. Era um empreendedor ensinando alunos como serem empreendedores”, disse Aulet. “Não existia espaço na academia para discutir esse assunto.”
Conforme a demanda dos alunos foi crescendo, o MIT percebeu que esse conceito era muito generalizado e pouco ajudava quem realmente tinha ambições de se tornar empreendedor. A universidade decidiu adotar uma abordagem empreendedora para tratar do assunto.
“Resolvemos mapear quem eram os nossos clientes, ou seja, quem eram os alunos que buscavam abrir um negócio.” O que se descobriu é que existem perfis diferentes de quem almeja essa carreira: o aluno que está apenas interessado em empreendedorismo, mas ainda não sabe se quer ou não abrir um negócio; aquele que tem um negócio na família e busca melhorá-lo; o estudante que deseja ter uma postura empreendedora, dentro de uma grande corporação, o intraempreendedor; e, finalmente, o aluno que quer abrir uma startup. “Isso nos ajudou a criar uma maneira de ensinar que conseguisse suprir as necessidades de todos os públicos.”
Credenciais não significam nada
A oferta de professores de empreendedorismo não acompanha a demanda de alunos interessados no assunto. “Temos vagas em aberto no MIT. Ensinar empreendedorismo não é como ensinar química. Quando se ensina química, existe um roteiro a ser seguido, basicamente apoiado em problemas e o aluno tem de buscar a solução.” Matérias como química e matemática são ensinadas por professores cujas credenciais acadêmicas justificam ele estar ali. “No meio empreendedor, um MBA não significa nada. O aluno quer conteúdo valioso, que ajude ele de maneira rápida. O professor tem de ser muito afiado para dar as respostas que os estudantes precisam.” Da mesma maneira, o background do aluno significa muito pouco. “A beleza do empreendedorismo é que qualquer pessoa pode se tornar um empreendedor de sucesso. Ninguém pergunta quem seus pais são, ou de onde ele vem. As perguntas são quantos clientes ele conseguiu e quantos produtos vendeu.”
Velocidade é tudo
A velocidade, diz Aulet, deve ser uma premissa do ensino do empreendedorismo. “Se um aluno pergunta a você sobre financiamento, você não pode dizer que essa é uma matéria que só será ensinada dali a seis meses, porque muitas vezes ele está criando uma empresa e não tem tempo de esperar.” Além disso, a educação empreendedora não é um tipo de educação regular. Faz parte do papel do professor passar aos estudantes habilidades que não são exatas, como aceitar o fracasso, ter resiliência e buscar inovações. “É sobre abraçar o espírito empreendedor, sobre abraçar o fracasso”, diz Alet. Ao mesmo tempo, o docente deve transmitir a disciplina necessária para que todas essas “soft-skills” sejam bem usadas. “O empreendedor tem de ser muito disciplinado em sua carreira. Porque, se ele não for, simplesmente não terá dinheiro para pagar seus funcionários no final da semana.” A solução encontrada pelo MIT foi misturar aulas teóricas com aulas práticas – mais ou menos como no curso de medicina. Hoje, a instituição oferece, além das aulas in loco, cursos online sobre temas diversos – desde como ter a ideia de um produto até como buscar investidores – que podem ser acessadas pelos alunos a qualquer hora. Workshops, competições de startups e hackatons também fazem parte da educação formal oferecida pela universidade.
Generalidades não criam vencedores
Ensinar um aluno que está criando uma empresa de energia éolica é bastante diferente de orientar outro, que pretende desenvolver uma rede social. “São áreas muito diversas e o estudante precisa saber sobre as especificidades da área em que está entrando”, afirmou Aulet. Foi preciso, portanto, criar um ecossistema que permita que todos esses alunos convivam e troquem ideias – e também estimular a entrada de mentores e coaches na universidade. No MIT, alunos de diferentes cursos têm acesso ao centro de empreendedorismo. Os estudantes de engenharia e direito, por exemplo, podem ajudar o empreendedor que precisa de conhecimento nessas áreas. O espaço para o ensino de empreendedorismo na universidade deve ser compartilhado por alunos com diferentes backgrounds.
A métrica deve mudar
Aulet acredita que uma universidade que forma empreendedores não deve medir seu sucesso pela quantidade de empresas criadas por alunos e ex-alunos. “Nós temos de dar a ferramentas a eles e isso fará diferença em suas vidas. A sociedade precisa do empreendedorismo porque ele gera desenvolvimento econômico, ele melhora o mundo”, diz. “Temos de incluir todos nesse ecossistema. Essa oportunidade precisa existir para as mais diferentes pessoas.”
Fonte: “Pequenas empresas & grandes negócios”, 17 de março de 2016.
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