Hoje pude assistir ao 4º Colóquio do Instituto Millenium, que teve como tema “O Estado que queremos – o papel e os limites do Estado brasileiro”. Durante a apresentação do 2º Painel, intitulado “Os limites do Estado em uma democracia representativa”, foi estabelecida uma comparação entre o modelo chinês e o brasileiro de crescimento.
Durante esta comparação alguns debatedores observaram muito bem que o cenário no Brasil difere da China, noves fora a ditadura comunista que governa o país, primeiro pelo tamanho da população chinesa e de seu mercado consumidor e depois porque as novas gerações daquele país jamais tiveram alguma liberdade, contentando-se com o pouco que está conseguindo, como quem prova uma fruta suculenta pela primeira vez.
A China conseguiu incluir 300 milhões de pessoas no mercado consumidor, tornando-se grande mercado para produtos de luxo, automóveis e bens de consumo dos mais variados. Toda essa gente está inebriada com sua boa situação e só daqui a mais um tempo irá questionar a falta de liberdade e democracia que ainda os acorrenta na primeira metade do século passado sob vários aspectos.
No Brasil existe essa liberdade, o que gera questionamentos variados. Temos uma segurança jurídica bem maior e um mercado interno infinitamente menor, o que não nos permitirá agir sob os mesmos preceitos que levaram a China ao seu crescimento invejável nas últimas décadas.
Até aqui, nada contra. Acho que é uma análise lúcida e coerente. O que senti falta durante toda essa exposição – e o tempo escasso para que todos pudessem fazer perguntas à mesa me impediu de questionar -, foi a ausência de uma comparação entre o Brasil petista e a Rússia de Vladimir Putin.
Não vou me concentrar nas diferenças e particularidades que obviamente existem entre os dois, mas compartilhar minha dúvida sobre perturbadoras semelhanças entre o Brasil do PT e a Rússia de Putin.
Diferente da China que concentra seu crescimento no setor industrial, Brasil e Rússia concentram-se na produção de matérias primas. O Brasil produz alimentos (ainda que o governo e setores da esquerda demonizem o agro-negócio) e a Rússia, petróleo e gás.
Novamente diferente da China, onde o Partido Único há tempos funciona como uma engrenagem autônoma, maior do que o Estado, no Brasil e na Rússia existe um sistema pluripartidário e eleições periódicas. Em ambos, porém, esses partidos são fracos e servem apenas como veículo para a condução de políticos personalistas ao poder.
Vota-se nas pessoas e não nos partidos ou ideologias.
E mais uma vez, com diferenças de origem e de personalidade, os dois países possuem líderes carismáticos que adoram o poder e o exercem no limite do pudor e da legalidade e baseiam-se numa popularidade construída em torno de uma mística pessoal. Lula é o operário que foi muito pobre, sofreu e venceu na vida, chegando ao posto máximo de seu país. Putin, um ex-agente da KGB, um verdadeiro herói russo, que esbanja virilidade e lembra aos seus compatriotas os melhores dias de seu país como potência mundial.
E as semelhanças não param aí. O capitalismo de estado, tanto lá como aqui, também se baseia em grupos de empresários “amigos” do governo sendo beneficiados (ou amigos de ocasião, já que fora do governo não existe tanta verba a baixo custo), diretorias de estatais sendo entregues com base em fidelidade partidária e não em mérito e um gosto todo especial pela estatização.
A proposta de ressuscitar a Telebrás e o caso da Usina de Belo Monte estão aí pra não me deixarem mentir. Quem nos garante que passado o período de bonança, não cairemos na mesma estagnação em que a Rússia caiu pela incapacidade de suas empresas privadas sobreviverem longe do guarda-chuva protetor do governo, e das estatais em manter o mínimo de eficiência nas suas operações?
Finalizando, Putin foi eleito e reeleito presidente da Rússia. Para não ter que recorrer a um terceiro mandato (como faz Hugo Chávez em sua demoditadura plebiscitária), escolheu para sucedê-lo uma pessoa sem muito brilho e executor de tarefas, que é o atual presidente Dmitri Medvedev. Antes de ser ungido por Putin como “herdeiro” de seu trono, Medvedev foi responsável pela reforma do serviço público, membro do conselho fiscal da Gazprom, estatal e maior empresa de gás do mundo, e finalmente tornou-se chefe da administração do Kremlin e adjunto do vice-primeiro-ministro.
Putin então foi para o cargo de primeiro-ministro e nem as matrioskas (aquelas bonequinhas que são vendidas para turistas na Rússia) acreditam que ele mande menos do que o presidente Medvedev.
Será que você também percebe aí uma semelhança assustadora com um certo presidente, uma certa Ministra da Casa Civil e uma eleição que se aproxima? Deixo a pergunta para cada um de nós refletir e responder.
Também estive lá. Você só esqueceu de nomear o “capitalismo do compadrio” . Achei a expressão citada, ótima.
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