Para muitos que começam a empreender, há uma motivação: ser independente e ter mais autonomia. Para outros, trata-se de uma questão de necessidade, pelo contexto econômico ou social. Na prática, empresários são impactados por uma série de questões, como inflação, regulamentações, competições de grandes empresas, dentre outros.
Vivenciamos a quarta revolução industrial, ou, se preferir, a revolução de serviços. Nela, nossa nova geração de empreendedores está sendo impactada por uma globalização de soluções e a digitalização de empresas em todos os ramos de atividades. As transformações ocorrem em modelos de negócios que não buscam apenas redução de custo mas, principalmente, uma inovação na cadeia de valor.
Atores políticos estão correndo para compreender o que fazer para equilibrar, ou compensar, o impacto dessas transformações econômicas e sociais. Fica evidente que precisamos de um nova atuação política, para acompanhar e promover impactos positivos nas mudanças que a tecnologia está provocando. Do contrário, corremos riscos associados às tecnologias exponenciais.
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No Brasil, há centenas de projetos de lei com o objetivo de regulamentar novos modelos de negócio que impactem na cadeia de valor. Mas são raras as propostas que buscam defender consumidores ou um ecossistema local de inovação.
Se faz necessário provocar nossos empreendedores: qual a vida cívica que eles querem construir? Qual ambiente é necessário para as próximas empresas? Nos últimos anos, foi possível encontrar inspirações e um novo significado para empresários no empreendedorismo social ou nas empresas B (utiliza a iniciativa privada para gerar benefícios sociais e ambientais), que estão buscando retornos para além dos estritamente financeiros.
A renomada economista Mariana Mazzucato, que estuda o papel do Estado na inovação de mercados ao redor do mundo e é autora do livro “Estado Empreendedor”, desenvolveu um trabalho detalhado sobre o ecossistema de inovação brasileiro para o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) a pedido do Ministério da Ciência e Tecnologia em 2016.
Depois de um trabalho detalhado sobre nossas organizações, ela percebeu que muitas instituições públicas, financeiras e privadas têm uma agenda de inovação já definida. Mas elas não conversam entre si.
Outro ponto relevante diz respeito às missões a longo prazo que, segundo a autora, devem ser transversais e permitir maior eficiência das políticas de inovação. Isso teria potencial para ajudar a reequilibrar as finanças públicas, não através de cortes de gastos – como predominante na agenda de austeridade –, mas aumentando os investimentos estratégicos e receitas futuras.
Temos alguns agentes neste ecossistema de inovação que são importantes de destacar, tais como organizações de conhecimento, Embrapa, Fiocruz e outras. Temos programas de financiamento de longo prazo com bancos públicos, como BNDES e agências de inovação pública como FINEP. Mas ainda faltam empreendedores políticos, equipes e profissionais capazes de auxiliar o debate dessa agenda conjunta, com conhecimento local do contexto político, econômico e social.
Esse novo perfil de empreendedor pode desenvolver um futuro que está além da regulamentação de novos modelos de negócios, mas também é capaz de arquitetar um novo horizonte para consumidores e o ecossistema de inovação.
A política é o instrumento para decidir coletivamente, buscar equilíbrios na sociedade e tomar decisões para resolver problemas sociais e econômicos. Por isso, vamos buscar inspiração em nossos empreendedores sociais e fomentar um novo ecossistema de empreendedores políticos, que ajudem a construir uma sociedade equitativa, um mercado capaz e competitivo.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”