Diante da desaceleração do crescimento do PIB que acaba de ser anunciada, o governo parece ter finalmente entendido que, sem atacar as carências e gargalos da infraestrutura de transportes fora do seu minguado orçamento, será impossível a economia brasileira crescer a taxas mais elevadas. Só que, aqui, a chave é fazer concessões de boa qualidade. Por isso, é preocupante que, na rodada que acaba de ser concluída, as escolhas tenham sido tão criticadas na mídia. Sem concessões eficientes, não se aumenta a produtividade da economia, especialmente da indústria.
O governo quer que a economia cresça a 5 ou 5,5% ao ano. O próprio Banco Central parece ter mudado sua função-objetivo que, agora, conteria outros objetivos além das metas de inflação. O fato é que há uma onda pró-maior-crescimento-econômico no país, e essa parece se situar entre as maiores preocupações da presidente da República.
Cabe, contudo, entender que, sem aumentar a produtividade – que, na média dos setores vem estagnada há muito tempo – o Brasil só cresce mais se investir mais em relação ao PIB, ou seja, aumentar, frente ao PIB, uma (ou mais) das três fontes de poupança: a pública, a privada interna e a externa.
A poupança privada interna é difícil de aumentar a curto prazo. O país gosta de consumir e o governo incentiva isso por vários canais. Na pública, o governo não quer nem ouvir falar em tocar… Isso seria abandonar o velho modelo de crescimento dos gastos correntes, que tem propiciado a viabilização de objetivos de alto valor político-eleitoral. E contra o aumento da poupança externa existe o lobby pesado da indústria de transformação, que quer se defender da “invasão” de produtos mais baratos chineses e do “tsunami cambial”, expressão cunhada para a forte entrada de capitais no Brasil nos últimos tempos, diante da crise mundial. Poucos sabem, mas a poupança externa só ingressa efetivamente no país se houver um déficit externo – a outra face da mesma moeda – de idêntico valor. E isso implica maiores importações líquidas de produtos industrializados.
Enquanto isso, embora consiga apenas apenas suavizar o processo de apreciação cambial, o Banco Central adquire toneladas de dólares financiando-as colocando títulos que pagam a ainda estratosférica – em termos mundiais – taxa de juros Selic, mesmo após ser ajustada para 9,75% a.a. Com taxas por aqui nesses níveis, como evitar que os gestores financeiros no exterior, inundados de liquidez à busca de rendimento, deixem de direcionar suas baterias para cá, quando a opção lá fora é uma taxa de rendimento aproximadamente igual a zero? E tome, em consequência, maior custo de “carregamento das reservas” – ou seja, o custo de financiar sua compra -, que pressiona a dívida pública e faz o governo arrecadar mais e mais, sob pena de perder o controle. Ao final, é o contribuinte que, sem saber direito, encara a conta absurda.
Isso a indústria precisa entender. Enquanto o governo luta para conter o “tsunami” com um dique frágil, a conta existe e vai para o contribuinte. Uma hora essa conta fica inviável, e, convenhamos, não há o que o Brasil possa fazer para impedir a invasão chinesa, nem a inundação de moeda estrangeira, a não ser as declarações de praxe.
A China vem implementando um modelo econômico em que ela só depende dos outros países quando parece dizer: compre esse produto a um preço mais baixo do que os demais estão oferecendo. Quem não quer isso? Para produzi-los, ela financia o investimento necessário com poupança exclusivamente sua. Ou seja, quem tem poupança, vai longe. Os chineses dizem que o Brasil chora à toa, pois tem um setor de commodities que vende cada vez mais lá fora a preços também mais altos, das quais ela é a maior compradora. Em economia, uns perdem e outros ganham. É sempre assim. O difícil é fazer os que ganham compensarem os que perdem. Paralelamente, sendo senhores do poder de emitir suas moedas, americanos e europeus não hesitarão em despejar liquidez no mundo para suavizar a difícil transição dos respectivos países para a normalidade. Até porque eles podem alegar que o Brasil perderia muito com o acirramento da crise europeia.
Como os novos investimentos em concessões são expressivos e uma realidade, a inevitável pressão de entrada de poupança externa para financiá-los implicará encolhimento dos demais setores, especialmente da indústria de transformação, que é o primo pobre nessa briga. Sem se mexer na poupança pública, só virá alívio se as concessões tiverem boa qualidade e, assim, aumentarem a produtividade dos usuários, especialmente a indústria. Além disso, a indústria deveria brigar junto ao governo não só pelo aumento da poupança pública, como pela busca de maior produtividade via reformas microeconômicas, onde se destacam as que flexibilizam o mercado de trabalho, reduzem a burocracia, simplificam o sistema tributário e o que não mais. É só retomar o esforço de reforma concebido e iniciado pela dupla Palocci/Marcos Lisboa.
Fonte: O Globo, 12/03/2012
Nenhum país consegue produzir de tudo.
Temos que focar nas nossas virtudes: Commodities minerais, agrícolas e energéticas; e agregar valor a elas.
Vejam, somos os maiores exportadores de minério de ferro e açúcar bruto do mundo. Logo mais seremos exportadores de petróleo.
Ora temos que agregar valor a esses produtos: de minério de ferro para ferro-gusa, aço e cimento (produzido com escória siderúrgica); de açucar bruto para refinado; de café em grão para torrado e moído; de petróleo para refinados e polímeros e resinas.
A quantidade de investimento para isso é fenomenal, serão trilhões e trilhões de dólares para chegarmos a isso. Sem contar a parte humana com pesados investimentos em educação e treinamento.
Aí sim, teremos industrias fortes e competitivas.
Esse ruído todo é perda de tempo, pois, continuamos exportanto terra (minérios).