Poucos parecem ter notado, mas os números da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgados na semana passada pelo IBGE, revelaram que o emprego, ajustado ao padrão sazonal, retornou em setembro aos níveis vigentes antes da crise.
De fato, entre o primeiro trimestre de 2015 e o primeiro de 2017, houve destruição de pouco mais de 3 milhões de postos de trabalho, cerca de 2/3 dos quais no setor industrial.
De lá para cá, porém, foram recriados 3 milhões de empregos, cuja configuração é, contudo, muito distinta da que prevalecia quando a recessão atingiu em cheio o mercado de trabalho.
Em grandes linhas, ainda que o emprego industrial tenha crescido, não conseguiu repor as perdas. A expansão foi puxada por segmentos ligados à administração pública e, em menor grau, por várias atividades de serviços.
Pela ótica da situação no emprego, houve crescimento expressivo dos trabalhadores por conta própria e informais, assim como dos empregados pelo setor público.
Já o trabalho formal, de acordo com os dados da Pnad, ficou para trás, embora outras fontes, em particular o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), indiquem geração líquida de 375 mil postos nos últimos 12 meses, desmentindo os arautos da tragédia que resultaria da reforma trabalhista aprovada no ano passado.
Com isso, a massa salarial real também retornou aos níveis pré-crise, na casa de R$ 200 bilhões/mês, ante R$ 189 bilhões/mês registrados há dois anos.
Noto, por fim, que o terceiro trimestre deste ano marcou o melhor desempenho em termos de criação de empregos desde o início da série, em 2012, mas não está claro se falamos aqui de uma nova tendência ou apenas o rebote natural que se seguiu a um período anormalmente fraco, em razão dos problemas ligados ao movimento dos caminhoneiros em maio.
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De qualquer forma, os dados mostram uma recuperação em curso no mercado de trabalho, embora ainda aquém do necessário para acompanhar a expansão da PEA (População Economicamente Ativa). Não é por outro motivo que a taxa de desemprego permanece alta, ainda que tenha se reduzido, lenta, porém consistentemente, nos últimos 18 meses.
Nossas estimativas recentes sugerem que quedas mais pronunciadas da taxa de desemprego só se materializarão com crescimento mais vigoroso, acima de 2,5% ao ano pelo menos.
Indicam também, mas com grau muito menor de certeza, que a taxa de desemprego coerente com a inflação estável se encontra na casa de 9,0% a 9,5% (o risco é que seja até menor do que isso), isto é, que haveria um espaço considerável para crescer sem que a redução do desemprego possa pressionar a inflação.
As condições econômicas estão dadas, portanto, para uma retomada cíclica considerável, desde que a nova administração consiga afastar o espectro da crise fiscal que se desenha.
Já as condições políticas para tanto permanecem nebulosas. Do lado do novo governo, precisamos saber sua disposição para levar em frente reformas que custarão, por certo, muito de seu capital político.
Do lado da sociedade, representada (ainda que imperfeitamente) pelo Congresso, sua disposição para aceitar cortes severos nos gastos públicos, em particular os previdenciários.
Acredito que o segundo aspecto seja ainda mais problemático do que o primeiro. Quem apoiou a chantagem dos caminhoneiros em maio não me parece nada disposto a abrir mão de nenhum privilégio.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 07/11/2018