Tudo bem que os números, gerados pelo Ibope, devem ser vistos com lupa e analisados com cuidado. Mesmo assim, os resultados do Índice de Confiança Social, que o instituto divulga todo ano desde 2009, confirmam o que qualquer pessoa é capaz de perceber a olho nu: o prestígio da política e dos políticos é cada vez mais escasso entre os brasileiros. Conforme os números apresentados na quarta-feira passada, a confiança na presidente Dilma Rousseff, que em 2014 alcançava 44 pontos numa escala de zero a cem, este ano caiu para 22. Apenas para efeito de comparação: Luiz Inácio Lula da Silva tinha 69 pontos de confiança em seu último ano de mandato. A queda é expressiva demais para não indicar que algo vai mal em Brasília.
Não serve de consolo para o Executivo, é verdade, mas o fato é que a erosão não solapou apenas o prestígio da presidente. Os partidos políticos, que no ano passado tinham um índice de confiança de 30 pontos, somam agora míseros 17. E o Congresso Nacional, que chegava aos 35 pontos em 2014, aparece agora com os mesmos 22 dados a Dilma. O cenário é desestimulante. Sobretudo quando se dá conta de que, em lugar de se esforçar para reaver a confiança que deixaram escapar entre os dedos, as instituições e as pessoas que estão por trás delas fazem questão de insistir no erro. E agem como se não fossem as responsáveis pelo que está acontecendo.
É triste perceber que o governo esperou a situação chegar a um ponto crítico para fazer alguma coisa. Diante de um Congresso que tira uma nova despesa da cartola cada vez que o Executivo fala em economizar, Dilma promoveu na semana passada uma reunião com o objetivo não assumido de buscar ajuda dos governadores dos 26 estados. A presidente pediu que os chefes dos executivos estaduais a ajudem na tarefa de conter os parlamentares. E que os convençam a ir com menos sede a um pote de onde está cada vez mais difícil tirar água para matar a sede da turma toda.
Tomara que os governadores consigam dar ao Planalto a força que ele está precisando. Afinal, o Brasil vive os momentos iniciais de uma crise que, ao contrário de arrefecer, dá sinais de que se tornará ainda mais acentuada nos próximos meses.
Também ajudaria, e muito, se o governo gastasse com critérios mais compreensíveis o dinheiro que tira da sociedade na forma de impostos.
Dinheiro para companheiros
Apenas a título de exemplo: ao mesmo tempo em que, por falta de pagamento, uma obra importante como a duplicação da Rodovia-381 é paralisada, o governo abre o cofre para as centrais sindicais. Entre janeiro e abril deste ano, a CUT e outras instituições que sempre vão às ruas para defender o governo, receberam um total de R$ 166 milhões – 66 % mais do que nos quatro primeiros meses de 2014. É um dinheiro que sai do bolso da sociedade para o cofre de entidades que não estão sujeitas a qualquer tipo de fiscalização. Depois, a sociedade se irrita e vai às ruas pedir a cabeça da presidente e tudo o que o Planalto faz é escalar ministros para colocar a culpa na oposição golpista – sem jamais reconhecer os equívocos do próprio governo.
Fonte: Hoje em Dia, 02/08/2015.
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