O governo vem enfrentando uma séria ameaça de crise de confiança por parte do setor privado.
Tal ameaça se evidencia pelo aumento de críticas às iniciativas do Executivo, bem como à sua incapacidade de fazer a economia funcionar com mais vigor e, ainda, à possibilidade de a inflação continuar a subir.
E isso é tudo o que o governo não gostaria de enfrentar no início da campanha eleitoral à presidência da República. Mesmo que previsões negativas não se concretizem, os países costumam ser profundamente afetados por expectativas.
Além de gerenciarem medidas concretas destinadas a aquecer a economia, governos devem gerenciar expectativas. Como fazê-lo? Não é tarefa simples em um país como o Brasil.
Primeiro, pelo fato inconteste de que, aqui, o governo ainda é maior que a sociedade. Tal fato coloca a sociedade em posição subalterna nas suas relações com o poder constituído. E a disposição do Executivo de ouvi-la é afetada por esse desequilíbrio histórico.
O governo age para tutelar a sociedade e não para servi-la. E age em muitas frentes. Temos o governo empreendedor. O governo financiador. O governo regulador. O governo que faz as leis. No final das contas, as prioridades são definidas pelos interesses múltiplos do governo e não da sociedade.
O segundo aspecto é que o governo atual restabeleceu uma prática histórica de ser pouco transparente e muito voluntarista. As decisões recentes no campo da infraestrutura são provas desse voluntarismo.
Mesmo quando tinha razão, como na questão da renovação das concessões de energia, o Planalto não soube ou não quis dialogar de forma adequada.
O terceiro aspecto reside na baixa condição de reflexão política da imensa maioria do eleitorado, que, satisfeita com o que recebe, pouco critica ou sequer se posiciona de forma clara a respeito do debate político. Com um povo omisso ou desinteressado, a supremacia governamental é ressaltada frente à sociedade civil.
Infelizmente, temos ingredientes conjunturais e questões de fundo que podem facilitar uma crise de confiança. E a consequência será nefasta. Projetos adiados. Maior dificuldade em obter investidores nacionais e estrangeiros para obras de infraestrutura. Demora para fazer o país decolar, ainda que as condições sejam excepcionais para tal.
Apesar das boas intenções, materializadas em investimentos e oportunidades em infraestrutura, na queda das taxas de juros e na oferta abundante de crédito, bem como nas desonerações setoriais, o diálogo não é suficiente e existe pouca disposição para ouvir. Essa é a parte essencial para o gerenciamento das expectativas.
É evidente que essa tendência negativa pode ser revertida, antes que possa prejudicar o desempenho eleitoral da presidente Dilma Rousseff na campanha presidencial de 2014. Ainda dá tempo.
No entanto, já é perceptível o crescimento exponencial do prestígio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), entre o alto empresariado do país. Reflete o crescente desagrado com as expectativas.
Fonte: Brasil Econômico, 26/03/2013
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