O Rio de Janeiro vive dias tão difíceis quanto significativos. Há tempos não víamos — sem nenhuma saudade — o pânico da violência tomar conta das ruas, como nas últimas semanas. A aparente vitória do Estado na Vila Cruzeiro e no Morro do Alemão é um alento para toda a sociedade, que sonha há anos com um Rio de paz.
Mas há um outro fenômeno no ar, tão fundamental quanto a própria ocupação das favelas: o reconhecimento da população ao trabalho da polícia. Algumas crianças moradoras dessas comunidades afirmaram à imprensa que desconheciam o que era um policial e o seu trabalho. Uma total inversão de valores, em que o traficante era a autoridade máxima, e não o Estado.
Uma repórter da TV Globo recebeu, em uma caixa de fósforos, um bilhete anônimo de uma moradora grata pela ação da polícia. Como este, outros pequenos gestos de adesão vieram ao longo dos dias honrando os policiais, dignificando a população e tranquilizando a quem assistiu as recentes ações.
Se a população local respondeu positivamente, também pudemos acompanhar o contentamento de quem participou da missão. Jornais e a TV explicitaram a alegria e emoção de quem dedicou horas de trabalho, energia e sacrifício em benefício do restabelecimento da ordem em áreas esquecidas pelo poder oficial há décadas. Quem invadiu a favela esperando guerra, encontrou a amizade de moradores exaustos de serem reféns do poder paralelo.
Carioca — seja do asfalto ou do morro — é um povo acostumado, por diferentes razões, a associar a polícia com suborno, violência, medo e insegurança. Na ação do Complexo do Alemão, vimos, pela primeira vez, palavras como paz e confiança atreladas ao trabalho da polícia.
Essa desconfiança e distanciamento da polícia são um mal brasileiro. Em muitos países, ser policial é motivo de orgulho. O sucesso dos filmes “Tropa de Elite” ajudou a desmistificar as entranhas do trabalho policial, aproximando-o da sociedade civil. O elefante branco foi parar no meio da sala e resolvemos discutir o problema de frente. Descobrimos que policiais são funcionários públicos, incumbidos da nobre tarefa de nos defender e salvar vidas, assim como os médicos, mas com a diferença fundamental que, para isso, colocam as suas próprias vidas à prova.
O pontapé para a recuperação da confiança e admiração do carioca — algo que parecia impossível — já começou. As polícias Militar e Civil têm agora um duro trabalho pela frente: cortar o mal pela raiz, expulsando das corporações
os oficiais que não honram suas fardas. Policial bandido é minoria. É a exceção e não a regra. Acabamos de ter uma histórica prova disso.
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