Empreendedorismo para todos
*por Marcos Hashimoto
Quando as pessoas me conhecem e descobrem que sou professor e pesquisador de empreendedorismo, aqueles que não empreendem inevitavelmente iniciam uma conversa sobre por que não querem ter um negócio próprio. Parece que a atividade empreendedora hoje está tão na moda que as pessoas se sentem na obrigação de explicar por que não estão aproveitando a onda. Isso tem sido muito comum.
Os motivos são os de sempre: não querem assumir riscos, a carreira já está estável, não têm dinheiro, não têm uma boa ideia e assim por diante. Na minha visão, nenhuma dessas justificativas de fato justificam. Ao contrário do que muitos pensam, não existe uma fórmula do empreendedor ideal, que está disposto a correr altos riscos, que tem dinheiro para investir, que sempre tem boas ideias, com faro para negócios, líder nato, que constrói boas redes de contato etc. Isso é um mito. Empreendedores são pessoas muito comuns, como eu e você. Portanto, resolvi descrever aqui alguns modelos de empreendedorismo que podem servir para cada tipo específico de pessoa, com a esperança de demonstrar que empreendedorismo é, sim, para todos.
1. Se você não gosta de correr riscos, pode se tornar sócio de uma empresa já existente. Os maiores riscos estão na fase inicial do negócio. Uma vez estabelecido e passada a curva de mortalidade nascente (normalmente os primeiros 42 meses de vida), espera-se que a empresa já tenha seu modelo de operação definido, consiga fazer projeções de vendas mais concretas e tenha atingido o ponto de equilíbrio. O negócio continua crescendo e sempre há espaço para novos sócios, principalmente aqueles com habilidade para realizar um plano de expansão. Pode ser o seu caminho, se você tiver as competências necessárias.
2. Se você não é criativo, não tem boas ideias e não sabe identificar oportunidades, você pode se juntar a alguém que tenha boas ideias. O empreendedor não necessariamente é a pessoa que concebeu a proposta do negócio, e sim aquele que a executa. Muitas vezes, a capacidade de execução é até mais importante do que uma ideia brilhante. Se você é do tipo “hands on”, mãos à obra, gosta de ver as coisas acontecerem, não gosta de ficar muito tempo parado, é dinâmico, ativo e cheio de energia, tem tudo para empreender as ideias dos outros.
3. Se você é do tipo dinâmico e aventureiro, o negócio próprio pode chegar a uma fase rotineira e chata. Com o crescimento, vem a estabilização; com uma administração profissional, chegam os processos e controles. A improvisação dá lugar à eficácia e aquele clima de bagunça divertida que caracteriza muitas empresas nascentes se perde. Com isso, você fica sem vontade de tocar a empresa. A melhor alternativa aqui é se tornar um empreendedor serial. Aquele que vende uma parte da empresa, pega o dinheiro e monta outra, enquanto um administrador toca a empresa anterior. Esse processo pode se repetir muitas vezes, enquanto o empreendedor tiver energia para isso.
4. Se você sente que tem pouca experiência e pouco conhecimento de negócios, e não quer passar 2 anos fazendo um MBA (até porque o MBA não vai te ajudar a empreender), você pode começar com uma franquia. Uma franquia é um modelo de negócio que deu certo e está sendo replicado, garantindo uma rápida expansão à rede e proporcionando uma oportunidade de negócio ao franqueado. No modelo de franquia, você terá acesso a metodologias, processos, controles, planejamento, recursos, fornecedores – quase tudo vem pronto. Você só tem que aprender a prática para então vender a franquia e começar o seu próprio negócio com mais segurança.
5. Se você não gosta da ideia de ter um sócio e não quer depender dos outros, pode começar como um profissional autônomo. Ser autônomo não é apenas para médicos, advogados, arquitetos e dentistas. Dá pra começar sozinho em praticamente todas as áreas. Consultoria, aquele formato em que você vende seu conhecimento e experiência, é a alternativa mais comum. Mas existem várias atividades freelancer, como redator, web designer, técnico de manutenção, blogger, coach, palestrante, cuidador, músico… Comece sozinho. Conforme o negócio cresce, você vai chamando outras pessoas para te ajudar. Não são sócios ainda – são parceiros, que você pode desligar quando quiser. Aos poucos, você vai precisar de uma secretária e um auxiliar, e logo você estará com seu negócio. E, de repente, será o momento de ter sócios.
6. Se você não tem dinheiro, acredite, dinheiro não é o mais importante. Em primeiro lugar, porque você pode começar com muito menos do que imagina. É o que se costuma chamar no meio de bootstraping – que nada mais é do que o ato de começar pequeno, com recursos próprios, fazendo parcerias, pedindo ajuda para amigos, com custos mínimos iniciais. A maioria dos negócios no Brasil começa assim. Se você tiver paciência de crescer devagar, vai ver que tudo é possível. Dá para alugar em vez de comprar, dá para negociar preços melhores se o cliente pagar antecipado. E se depois de tudo isso você precisar de um grande investimento, já terá realizado coisas importantes, que vão te dar credibilidade para captar recursos, seja de um investidor ou de um banco.
7. Você quer empreender, mas sua carreira já está estável e não está disposto a abrir mão de tudo para começar do zero. A saída aqui é encontrar oportunidades intraempreendedoras. Uma das mais comuns, que eu procuro incentivar, é abrir representações internacionais no Brasil. Você é contratado por uma multinacional, estável, segura, que vai te garantir o seu atual estilo de vida. Mas, ao mesmo tempo, você é o primeiro no Brasil, você está expandindo fronteiras para um negócio já existente, com autonomia, liberdade, uma boa dose de independência e recursos à sua disposição, como um empreendedor.
8. Até mesmo desta fase você já passou. Você já está prestes a se aposentar, mas se sente com energia para continuar. Acumulou um bom patrimônio, está testemunhando a revolução do empreendedorismo, mas sente que perdeu o bonde, pois não tem disposição para começar algo do zero. Você pode se tornar um investidor-anjo: encontrar alguém com uma ideia em que você acredite, que tenha perfil jovem e empreendedor. Nesse caso, você poderá ajudar com ideias, contatos na área e mentoria. Você continuará ativo, sem a loucura do dia-a-dia de quem monta um negócio, mas com possibilidade de contribuir, interagir, discutir estratégias e fazer o que gosta junto com o empreendedor.
Existem várias outras possibilidades e configurações, mas em geral a fórmula é mais ou menos a mesma: juntar-se a alguém que esteja disposto a fazer o que você não quer ou não sabe, ou a alguém que tenha o que você não tem. Mais cedo ou mais tarde, você vai descobrir que ter sócios é muito mais saudável e divertido do que não ter. Mesmo que você comece sozinho, em algum momento vai sentir esta solidão e a necessidade de dividir a carga com alguém. E vai descobrir um dos prazeres do empreendedorismo: dividir responsabilidades e conquistas com um sócio.
Fonte: “Pequenas empresas e grandes negócios”.
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