O economista André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, lançará seu novo livro na próxima sexta-feira, 23. “Juros, moeda e ortodoxia” (Portfolio Penguin, 2017) é uma coletânea de ensaios em que o autor analisa o desenvolvimento da teoria monetária e suas consequências no contexto brasileiro e propõe um debate a respeito da elaboração de políticas públicas para o país.
Leia abaixo alguns trechos do livro:
Trincheira
“A condução da política monetária é hoje a última trincheira do liberalismo tecnocrático. O questionamento do arcabouço teórico que lhe confere legitimidade não é entendido como um questionamento meramente intelectual, mas como uma ameaça política. Diante da gravidade da crise político-institucional por que passa o país, levantar a possibilidade de que o arcabouço conceitual da ortodoxia macroeconômica possa estar equivocado ameaça, assim, a legitimidade da última trincheira da tecnocracia liberal ilustrada. Por isso mesmo, mais do que nunca, é preciso que se compreendam as questões envolvidas no debate macroeconômico.”
Anacronismo
“Após a crise financeira de 2007, diante da esmagadora evidência de sua importância, tentou-se reintroduzir a moeda e o setor financeiro nos modelos macroeconômicos, mas a política monetária hoje está diante de um anacronismo institucional e um impasse analítico.”
Escolhas políticas
“Fica comprometida a defesa da autonomia dos bancos centrais, assim com a tese de que a política monetária é assunto técnico, no qual não cabem escolhas políticas. A última trincheira da defesa da autonomia dos bancos centrais passa a ser então a complexidade técnica e os sólidos fundamentos conceituais que devem pautar a política monetária.”
Danos
“Assim como no passado a desastrada tentativa de aplicar regras rígidas do controle da moeda e do crédito diante de um processo inflacionário crônico, nas últimas duas décadas a insistência em aplicar uma nova ortodoxia, agora baseada numa regra para a taxa de juros, pode ter causado danos mais graves do que se aparenta. A moeda é uma convenção social. As questões monetárias são, portanto, indissociáveis dos costumes, das instituições e da tecnologia, que estão sempre em evolução. Nada mais inadequado para ser congelado numa ortodoxia defendida com unhas e dentes de todo questionamento intelectual.”
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