O Brasil tem 20 milhões de empreendimentos, 70% deles pequenas empresas. Um desafio é comum para todos: fazer a gestão financeira. Durante a pandemia, que provocou o fechamento temporário de muitos estabelecimentos, administrar as contas ficou ainda mais difícil.
Enquanto isso, uma fintech aumenta seu volume de vendas em 15% a 20% mensalmente. A Celero ajuda pequenas e médias empresas a fazer sua gestão financeira, centralizando a vida bancária desses negócios. A proposta da startup atraiu um novo aporte, realizado pelos fundos paranaenses GooDz Capital e Honey Island (criado pelos cofundadores do unicórnio brasileiro de pagamentos Ebanx). Para 2020, a Celero pretende aumentar em sete vezes sua base de pequenas e médias empresas atendidas.
Ideia de negócio: a vida bancária das PMEs
A Celero foi criada pelos empreendedores João Augusto Betenheuzer, João Tosin e Pedro Chaves. Betenheuzer e Tosin já faziam consultoria financeira para pequenas empresas durante a faculdade de administração, em 2014. Ao mesmo tempo, viam como as aulas de estatística financeira atraíam pouco interesse.
“Pensamos em quantas futuras empresas iriam quebrar. A gestão financeira não é apenas pagar boletos ou apurar lucros e prejuízos do passado. É entender o que pode acontecer com o negócio”, diz Tosin.
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A Celero começou no final de 2016. Os empreendedores recebiam documentos das empresas pela plataforma Dropbox e digitavam os dados no Microsoft Excel. Depois, agendavam manualmente os pagamentos em cada banco.
A fintech começou a receber clientes para além de sua cidade natal, Curitiba (Paraná). Uma pesquisa da própria Celero mostrou que 85% das PMEs não sabem o que é gestão financeira. O maior volume de vendas gerou mais funcionários, o primeiro investimento e a necessidade de desenvolver uma tecnologia própria.
A pequena e média empresa atendida pela fintech não precisa ter especialistas em gestão financeira para usar a Celero. O responsável bate uma foto de cada conta ou nota fiscal. A Celero identifica e classifica o documento (por exemplo, é a conta de luz). Depois, atualiza o fluxo de caixa cadastrado e se conecta aos bancos para agendar o pagamento perto do vencimento. A Celero se conecta a mais de 80 instituições financeiras hoje.
Quinze minutos diários são gastos no uso da plataforma. “Entregamos as atividades operacionais de um departamento financeiro, a um custo menor do que o de um estagiário e com mais inteligência”, diz Tosin. A fintech afirma gerar uma redução de 60% a 75% nos custos de gestão financeira das PMEs atendidas. A Celero cobra uma mensalidade por seus serviços, no modelo de software como um serviço (SaaS).
Mais do que um sistema de gestão financeira, porém, a Celero hoje se propõe a centralizar a vida bancária das empresas atendidas. “O empreendedor tem várias maquininhas e várias contas em bancos, mas não consegue acompanhar tudo isso. Não declara impostos corretamente e tem dificuldade para obter crédito”, explica Tosin.
A Celero atende cerca de 500 clientes. As PMEs na plataforma costumam apurar um faturamento médio mensal entre R$ 60 mil e R$ 300 mil. Nove a cada dez clientes são do setor de serviços, como agências de publicidade, clínicas de estética e escritórios de advocacia.
Novo investimento e planos de expansão
A Celero cresceu nestes tempos de pandemia: o volume de vendas aumenta de 15% a 20% mensalmente. “Os empreendedores estão dando mais valor a cuidar do seu próprio dinheiro, porque sabem que ficará mais difícil passar por esse e outros momentos sem profissionalização financeira”, diz Tosin.
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Na virada de 2018 para 2019, a Celero conquistou um investimento da Harvard Business Angels. O grupo de investidores anjo é formado por alunos e ex-alunos da Universidade Harvard. O valor do aporte não foi revelado, mas a fintech foi avaliada em R$ 10 milhões. Também foi reconhecida pelo Prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo Sustentável em sua 11ª edição.
A Celero participou de programas de aceleração do Google e da organização de fomento ao empreendedorismo Endeavor. Na Endeavor, os empreendedores da Celero tiveram como mentor Wagner Ruiz, cofundador do unicórnio brasileiro de pagamentos Ebanx. Foi o começo da relação que resultaria no aporte feito pela Honey Island, fundo early stage que reúne os fundadores do Ebanx e também outros empreendedores e investidores, e pelo GooDz Capital.
O novo aporte não teve valor divulgado. A Celero usará os recursos para acrescentar novos serviços. Uma conta para movimentar recursos deve ser lançada em junho. Para o segundo semestre, a fintech começará a viabilizar atendimento ao comércio varejista e oferecer condições melhores para crédito.
A fintech aumentou sua base de clientes em oito vezes durante 2019. Para 2020, o plano é multiplicar seus usuários em sete vezes. O número deve chegar a 2,5 mil clientes. A expansão no número de funcionários deve acompanhar esses planos. Os 56 colaboradores passarão para 130 neste ano.
A meta de longo prazo é ainda mais agressiva: atender 1 milhão de pequenas e médias empresas em sete anos. O mercado é grande: o país tem milhões de empresas, e boa parte delas têm dificuldade em administrar suas finanças.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”