Tenho muito estudado e refletido sobre a atual crise financeira americana, cujos efeitos deletérios sobre a economia real perdurarão por alguns anos. De uma maneira geral, a crise tem servido para dois lances de retórica: primeiro, as viúvas soviéticas, que estavam se banhando na ilha de Fidel, resolveram retomar o discurso do intervencionismo estatal e massacrar o liberalismo econômico; segundo, a ganância de Wall Street e a busca irrefreada de lucros são apontadas como o aspecto imoral pelos moralistas da hora. Digo da hora porque tais “moralistas” não têm memória; se esquecem que, sob as ordens do dirigismo de Estado, foram feitas as maiores atrocidades humanitárias; bradavam por igualdade e direitos sociais, mas impunham a pobreza generalizada para o povo e reservavam a luxúria das benesses estatais para o núcleo rígido do poder. Enfim, faziam do discurso oficial um instrumento de subjugação da verdade para a enganação dos desavisados.
Pois bem, para analisar os fatos, antes de vezos ideológicos, é preciso a imparcialidade da razão. E não há dúvida de que excessos e desatinos foram feitos pela turma da bufunfa; usaram as brechas de desregulamentação para criar produtos tóxicos de ampliação da base creditícia e, com isso, manter a roda econômica girando. Os primeiros sintomas de intoxicação foram controlados por paliativos que, ao longo da curva, apenas agravaram a overdose de ficção financeira. Quando um dos convivas sentiu que a loucura da festa havia extrapolado todos os riscos, acendeu a luz e a purpurina virou pó. O sistema entrou em colapso imediato e aquelas frágeis estruturas ruíram como um castelo de cartas.
Para evitar um mal maior, o Estado agiu para controlar o fogo. Por certo, muitos devem estar pensando no bordão “lucros privados, prejuízos sociais”. Faz sentido; resta entender o motivo. O fato é que Wall Street criou seus derivativos de vento para atender aos desideratos de uma sociedade doente que consumia tudo e qualquer coisa. Durante quase uma década, as famílias americanas não pouparam um único centavo; torravam seus salários e ainda se endividavam. Esse consumismo doentio atendeu a dois propósitos básicos: garantiu uma sensação de bem-estar social e permitiu que a economia americana ficasse superaquecida durante anos. Mas, como tudo na vida, nada dura para sempre.
A economia é feita de ciclos de crescimento que, quando chegam ao ápice, disparam uma espécie de alavanca de correção, cujo estopim é uma crise. Essa que estamos vivendo, agora com conexões europeias, é apenas mais uma dentro da quadra evolutiva. O ensinamento que fica desse consumismo doentio é simples: não temos que comprar porque é barato; apenas temos que comprar o que precisamos. Quando passamos a nos impor limites, passamos a valorizar o dinheiro e usá-lo para aquilo que realmente nos agrega valor. Que tal comprar essa ideia?
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