A relação com a China será o maior desafio, pelo impacto divisor que produz no Brasil: o setor manufatureiro perde enquanto a mineração ganha.
Entendemos a política externa a partir das relações internacionais do Brasil em sentido amplo, que inclui política, economia, defesa-segurança e ambiente-clima-energia, produzidos em vários ministérios. A política externa de Dilma provavelmente dará continuidade aos principais delineamentos da de Lula: ênfase crescente nas relações Sul-Sul – com destaque para políticas direcionadas à América do Sul, China, Índia, a países africanos e árabes – e estabilidade com os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e o Japão.
A nova escalada autoritária na Venezuela e as tensões com o Ocidente, geradas pela política de Lula com o Irã, podem produzir certo distanciamento em relação a esses regimes. A importância da atuação no G20 prosseguirá, ao lado de demandas por mais reformas no FMI e no Banco Mundial.
Provavelmente haverá diminuição da ênfase na reforma do Conselho de Segurança da ONU, pelo reconhecimento de que as perspectivas são remotas. Na proteção internacional dos direitos humanos, pode-se esperar certa crítica aos regimes ostensivamente violadores.
Haverá, provavelmente, a diminuição da retórica integracionista da América do Sul, devido ao reconhecimento das limitações estruturais para o avanço, já que todos os países, exceto o Uruguai, priorizam ostensivamente o interesse nacional imediato em detrimento da integração. Com o iminente acesso da Venezuela ao Mercosul, a estagnação do bloco se aprofundará.
A relação com a China será provavelmente o maior desafio, pelo impacto divisor que produz no Brasil: enquanto produtores de minérios e alimentos ganham muito com a interdependência comercial crescente, o setor manufatureiro é perdedor. O dilema é manter economia equilibrada e diversificada ou aprofundar a retomada da tendência de grande produtor de commodities.
É difícil conjeturar sobre a direção do governo Dilma, em função da falta de visão estratégica de longo prazo das últimas décadas.
Por parte do governo Obama, poderá haver interesse em elevar para um nível mais estratégico a relação com o Brasil, mas sua efetivação dependerá do governo brasileiro perceber os limites na sua atual política Sul-Sul. Os conflitos comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos poderão se aprofundar.
Haverá continuidade na politica de defesa: parceria estratégica prioritária com França e secundariamente com EUA e outros países europeus, participação destacada das forças armadas brasileiras em operações de paz da ONU e oposição ao Protocolo Adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear.
A defasagem entre o recente avanço da política climática brasileira, com metas de redução de emissões, e a posição de negociação internacional, que mantém o país atrelado às posições conservadoras de China e Índia, é provável que não permaneça por muito tempo, em função do peso de empresas modernas e da opinião pública.
Uma eventual exploração do pré-sal, com captura e estocagem de carbono, poderá acelerar essa tendência. As potencialidades do Brasil têm sido subestimadas quando expressas na atual política externa focalizada nas relações Sul-Sul.
O país, se colocado como ponte entre Norte e Sul, alçaria posição legítima de liderança na construção da governança global.
Esse é um fator estrutural de mudança que pode ser considerado no médio e no longo prazo. Um elemento positivo para potenciais avanços é a mentalidade mais pragmática do ministro Patriota.
Fonte: Folha de São Paulo, 27/12/2010
*de Eduardo Viola e Héctor Ricardo Leis
O que deveria se deixar de lado é a ideologia da pessoa do presidente em beneficio da economia brasileira.
Se nestes oito anos nossa política externa seguisse parcerias com os EUA e Europa, além da busca de diversificação e não de substituição com certeza seguiríamos um crescimento ainda maior.
Concordo que a grande questão será a China, que cada vez mais estará em evidencia para a mídia, mas principalmente para os outros países.
O Brasil necessita pensar realmente no crescimento de novas perspectivas econômicas, e isso se aprofunda na questão apresentada.
Queremos realmente ser exportadores apenas de commodities?