O número de contratos firmados no Brasil entre grandes empresas e startups aumentou 194% durante os meses de julho de 2016 e julho de 2017, na comparação com o mesmo período anterior, aponta estudo realizado pelo 100 Open Startups, movimento de apoio ao empreendedorismo. Ao todo, 135 relacionamentos de negócios foram fechados entre corporações e as empresas iniciantes de tecnologia entre julho de 2016 e julho de 2017 – no período anterior, foram 46.
Para Bruno Rondani, criador do 100 Open Startups, o aumento no número de contratos se deve a uma mudança na lógica das grandes empresas, que têm buscado as startups para tentar resolver problemas de produtividade, redução de custos e transformação digital. “Antigamente a lógica era de aquisição. Veja o caso da compra do YouTube pelo Google ou o do Buscapé, que adquiriu 14 startups para se firmar”, diz Rondani, em entrevista ao Estadão. “Hoje, as empresas pensam em contratar para poder usar as novidades rapidamente.”
Rondani aponta também que para startups a mudança é positiva, já que existe mais espaço no País para startups que prestam serviços para empresas (o chamado B2B), em vez da dinâmica de negócios voltada para consumidores finais. “Exceto por algumas startups de varejo que fazem a fama, como Facebook, a grande densidade de negócios está na compra de soluções por grandes companhias”.
O crescente número de negócios nesse formato no Brasil indica também que as startups estão mais maduras, como comenta André Monteiro, presidente executivo da rede Brazil Innovators. “Em negócios B2B, a startup não pode só testar seu serviço. Ela precisa garantir que ele vai funcionar para o cliente”, diz, acrescentando que as consultorias e espaços de coworking, como o Cubo, do Itaú, ajudaram o mercado de startups a se preparar como esse tipo de negócio.
Além disso, o dinheiro gerado com a venda direta do produto ajuda as empresas de inovação a validarem seus negócios sem a necessidade de grandes investimentos externos. “Para a empresa, é melhor ter um cliente grande que a ajude a se estruturar sozinha do receber um investimento para manter seu negócio enquanto testa soluções”, diz Monteiro. Isso acontece porque, ao receber investimentos, as startups têm de abrir mão de participação acionária (e controle).
Para ele, no entanto, as startups precisam ficar atentas ao seu projeto original quando assinam esse tipo de contrato, já que há cada vez mais assédio das corporações para que as empresas inovadoras voltadas para o consumidor final atendam o mercado corporativo. “As companhias sugam as empresas menores, demandando novos projetos e soluções personalizadas. Se não tomar cuidado, a startup pode deixar sua essência de lado para atender as demandas de uma grande organização”.
No Brasil, há casos de sucesso nesse tipo de parceria. A startup GoEpik, eleita pela 100 Open Startups como a empresa de inovação mais atraente do ano para companhias, fechou 9 contratos nos últimos dois anos. Criada para atuar no mercado de educação, a startup se adaptou às necessidades da indústria 4.0 e hoje oferece soluções de realidade aumentada para empresas como Natura, Renault, Bosch e Porto Seguro.
Andre Monteiro menciona a Olist como destaque, uma startup que faz a ponte entre pequenos comerciantes que querem anunciar em marketplaces, mas não possuem a estrutura para orquestrar a operação de venda. Através da startup, então, os comerciantes conseguem colocar seus produtos nas maiores lojas do varejo brasileiro, como Walmart, Americanas e Submarino.
Em outras áreas, como recursos humanos, há destaques, como a startup 99 Jobs, que tem sido contratada por grandes corporações para atrair os profissionais jovens, que não têm se interessado por processos tradicionais de trainee. Empresas como Globo, Microsoft e Embraer usam a plataforma da startup para buscar talentos.
Pesquisa. A 100 Open Startups realizou um estudo com base nos programas de relacionamento disponíveis no mercado brasileiro. A pesquisa encontrou 613 contratos entre 84 startups e 110 empresas. Dentre eles, somente 181 foram firmados para negócios além de posicionamento de mercado e contato inicial com as empresas de inovação.
Os resultados foram publicados em um e-book e apresentam, além dos dados, um panorama sobre como está o relacionamento entre as corporações e as startups. O estudo dividiu as relações em quatro grandes áreas — Posicionamento, Plataforma e Parcerias, Desenvolvimento de Fornecedores, Investimento.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”.
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