*Por Rodrigo R. Coutinho
Antes da realização da Copa do Mundo 2014, no Brasil, muitos previam – especialmente a mídia internacional – o caos durante o evento, seja na forma de protestos, logística (aeroportos, portos, estradas, etc.), obras inacabadas etc. Passado o evento, há quase um mês, hora de fazer um balanço.
O Brasil gastou mais de US$ 11 bilhões para se preparar para o evento, que aconteceu em 12 estádios em 12 cidades diferentes. Em estádios, o Brasil gastou cerca de US$ 4 bilhões, 80% dos quais financiados pelo Banco de Desenvolvimento local, o que em si foi alvo de inúmeras críticas dada a necessidade do país de investimentos em áreas fundamentais, como saúde, educação e segurança, além também de infra-estrutura.
O Brasil, cinco vezes campeão mundial de futebol, e conhecido por ser o “país do futebol”, queria sediar o evento, e deveria. Mas para isto deveria se preparar de acordo. Às vésperas do Mundial, inúmeras obras iniciadas com o intuito de facilitar a realização do evento – como aeroportos, e obras de mobilidade urbana – não estavam terminadas. E os próprios estádios foram acabados às vésperas da realização do evento.
Em contrapartida, setores como educação, saúde e segurança, acima mencionados, apresentavam, e apresentam, deficiências graves, o que justificou, em grande parte, os protestos ocorridos durante a realização da Copa das Confederações, evento preparatório para a Copa do Mundo, realizada um ano antes. Tais protestos ficaram marcados por “não vai ter Copa”, e pela exigência de “padrão FIFA” em escolas e hospitais.
A Copa do Mundo acabou de terminar, e é bom que se diga, foi um enorme sucesso. Os estádios bateram recorde de público, só superado pela Copa do Mundo dos EUA, em 1994, e pela própria Copa do Mundo do Brasil, em 1950. Os aeroportos apresentaram atrasos da ordem de 7,6%, abaixo da média da União Européia em 2013, de 8,4%. Quase um milhão de turistas estrangeiros visitaram o país, e 95% deles demonstraram interesse em retornar ao país. A hospitalidade dos brasileiros foi um marco do evento, assim como foram, conforme pesquisa Datafolha, a organização do evento, o conforto, segurança e transporte até os estádios, a qualidade do transporte aéreo, a qualidade das atrações turísticas e a segurança dos turistas.
É bom que se diga que alguns dos fatores mencionados acima foram facilitados por uma estrutura montada para o evento – segurança especial, uma série de feriados e esquemas de mobilidade urbana específicos, bem como intervenções de tráfego próprias para o evento. Mas nada fora do comum em eventos similares, e que de forma alguma diminui o sucesso do evento.
Ainda assim, também é bom que se registre, inúmeras obras que deveriam ter sido concluídas antes do evento não o foram, como aeroportos (ex. Galeão, no Rio de Janeiro) e obras de mobilidade urbana – BRTs, VLTs, metrôs, etc.. É fundamental agora que se cobre a conclusão destas obras, muitas delas já em andamento.
O Brasil possui cerca de US$ 364 bilhões em reservas internacionais, é a sétima maior economia do mundo, com PIB de US$ 2,2 trilhões, e os investimentos em educação e saúde superam em dezenas de vezes por ano os investimentos com a Copa do Mundo. Não foi, portanto, a Copa do Mundo, a responsável por investimentos menores em saúde e educação. Os investimentos com a Copa do Mundo foram adicionais, e responsáveis, para um país do tamanho do Brasil, mais de seis vezes maior, por exemplo, do que a África do Sul, sede da Copa do Mundo de 2010. O que se tem que questionar, portanto, não é “menos Copa” e mais investimentos em saúde, educação e segurança, mas sim a qualidade destes investimentos todos, na Copa – onde provavelmente houve superfaturamento em obras -, e em saúde, educação e segurança, em que também tradicionalmente há superfaturamento.
Portanto, o Brasil fez bem em sediar a Copa do Mundo 2014. Acredito ter sido um investimento de acordo com o tamanho do país e de sua economia, além de ser coerente para um país cinco vezes campeão do mundo sediar uma Copa do Mundo novamente (depois de 64 anos), como México – que nunca ganhou -, Alemanha, França e Itália já o fizeram.
Quanto às sedes e estádios, houve muitas críticas em relação ao futuro uso dos estádios. E no que diz respeito a isto, gostaria de esclarecer que, dos doze, pelo menos sete serão (e já são) usados: Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Recife. Brasília provavelmente também será, visto que há grandes torcidas de grandes centros urbanos lá concentradas. Fortaleza também concentra grandes clubes, apesar de não nas primeiras divisões do Campeonato Brasileiro. Outras três podem ser menos utilizadas – Natal, Manaus e Cuiabá -, mas por razões políticas foram incluídas, em grande parte por estarem localizadas em grandes centros de atração turística: Pantanal (Cuiabá), Amazônia (Manaus) e Dunas (Natal). Portanto, ao contrário do que ocorreu na África do Sul, muito provavelmente, os estádios brasileiros serão utilizados para futebol. E muitos deles precisavam ser reformados, até para evitar acidentes como o que ocorreu em Salvador, em 2007, em que sete pessoas (das mais de 60 mil presentes) morreram após a queda de parte da arquibancada, em mau estado de conservação.
Enfim, não só o evento em si foi um sucesso, como também elevou a estima do brasileiro, e alçou, sim, o Brasil a um novo patamar em termos de imagem internacional, antes, mas, principalmente, durante o evento. Não só pela visibilidade que o evento dá e deu ao país e aos brasileiros. Mas porque certamente o país colherá frutos em termos de turismo, como colheu durante o evento. Assim como ocorreu com a Jornada Mundial da Juventude, em 2013.
Que venham os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro!
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