O BNDES estuda criar uma linha de crédito específica para hospitais e laboratórios privados, que enfrentam dificuldades financeiras com suspensão de atendimentos eletivos e aumento de custos em meio à pandemia de coronavírus.
Segundo fontes envolvidas nas negociações do setor com o banco de fomento, o novo tipo de financiamento deve estar pronto em duas semanas.
É possível que a linha ofereça R$ 3 bilhões para financiamentos diretos a unidades de saúde com faturamento acima de R$ 50 milhões anuais. Para os estabelecimentos de pequeno porte, o BNDES negocia operações indiretas com bancos de varejo.
O risco das operações seria reduzido com garantia de até 80% do valor do financiamento pelo Fundo Garantidor de Investimento (FGI), que deve contar com um reforço de R$ 20 bilhões do Tesouro Nacional.
A capitalização, no entanto, ainda depende da edição de medida provisória e a garantia só deve estar operacional apenas em meados de junho, dizem fontes.
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Há cerca de um mês, representantes de hospitais e laboratórios vêm discutindo com o BNDES saídas para o setor. Entre os entraves para a concessão do crédito está a falta de patrimônio para ser dado como garantia pelos hospitais e o temor dos bancos de enfrentar dificuldades para a execução das dívidas pelo fato de a saúde ser uma atividade essencial.
Segundo Henrique Neves, presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) — que reúne os maiores do setor — a dificuldade de caixa do segmento começa agora.
Como os pagamentos a hospitais são feitos geralmente 60 dias após os atendimentos, até 15 de maio os estabelecimentos só haviam recebido pelos serviços prestados antes da pandemia.
Segundo Neves, o crédito atualmente disponível no mercado não tem prazo nem taxas adequados para o setor:
— Com suspensão de procedimentos eletivos houve uma queda importante de receita. Estamos discutindo com o BNDES formas de garantir o crédito para que possamos nos manter até que retorne a normalidade dos serviços. Enquanto isso os hospitais têm o desafio de reequilibrar as contas, reduzir custo. Para isso têm usado as ferramentas disponíveis, como suspensão de contratos de trabalho, redução de salários e jornada e antecipação de férias.
Os pequenos e médios hospitais, de até cem leitos, são os que se encontram em pior situação, diz Luiz Fernando Silva, superintendente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), que reúne os 4.200 estabelecimentos no país:
— Eles representam mais de 70% do total de hospitais brasileiros. São estabelecimentos, em sua maioria, em áreas periféricas ou no interior, que não têm condição de atender pacientes com Covid-19 e que tiveram os serviços praticamente suspensos. Há casos em que a receita chega a ser 20%, 30% do que era antes da Covid-19. Isso significa que não há recurso suficiente sequer para pagar a folha de pagamento, que representa 50% do faturamento. Conclusão: já há hospital fechando.
Ociosidade de até 90%
No caso dos laboratórios e clínicas de imagem, a ociosidade varia entre 70% e 90%, diz Priscilla Franklin Martins, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). A maioria das empresas do setor tem adotado redução de jornada e salários, inclusive grandes grupos como Dasa e Fleury.
No Grupo Dasa, várias faixas de redução de jornada foram implementadas. A empresa se comprometeu, no entanto, a complementar a parte do salário paga pelo governo com base num porcentual do seguro-desemprego, de acordo com a MP 936, para que não haja impacto na renda de seus funcionários.
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O Grupo Fleury, por sua vez, informa que adotou medidas fortalecer seu caixa com a captação de R$ 550 milhões e a postergação de pagamentos de R$ 200 milhões em dividendos. O Fleury também propôs aos funcionários, incluindo diretores e presidente, uma redução de 25% da jornada de trabalho e salários para o mês de maio.
As únicas atividades não abrangidas pela medida são as da central de atendimento ao cliente, de processamento de exames de biologia molecular (que processam exames de detecção do coronavírus) e de desenvolvimento de serviços digitais.
— O atendimento despencou. Muitos laboratórios fecharam suas unidades à espera do que vai acontecer. As linhas de crédito hoje não são acessíveis, principalmente para os laboratórios de pequeno porte. Acreditamos que, para manter o setor hoje, precisaríamos de uma linha de crédito entre R$ 18 bilhões e R$ 20 bilhões — afirma Priscilla, da Abramed.
Breno Monteiro, presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) — que reúne, hospitais, laboratórios e demais prestadores de serviços do setor —, diz que uma das alternativas que devem ser avaliadas é a possibilidade do retorno de procedimentos eletivos em algumas regiões do país:
— Aqui em Belém, onde moro, os hospitais estão lotados com casos de Covid-19. Não há a menor condição de voltar com cirurgias eletivas. No Sul e no Centro Oeste, no entanto, a demanda por leitos para contaminados por coronavírus está controlada e a volta de procedimentos eletivos poderia ser estudada.
E continua:
— A ocupação nos pequenos hospitais, de até 50 leitos, está em torno de 30%. E além disso, temos a pressão do aumento de preços dos equipamentos de proteção, afastamento de profissionais contaminados pelo coronavírus, pagamentos de horas extras.
Fonte: “O Globo”