A presidente Dilma Rousseff tem ainda uma oportunidade de enfrentar favoravelmente o julgamento da História. Mas, para que isso ocorra, precisa compreender seus próprios erros e ter a coragem de enfrentá-los. Ministra das Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, sua reputação como eficiente administradora foi irreparavelmente perdida se aceitarmos sua inocência em meio ao desvio bilionário de recursos públicos.
Sua reputação como economista perdeu-se também quando promoveu o esvaziamento do ajuste fiscal de Palocci e patrocinou o inconsequente expansionismo de Mantega. A atuação de Dilma foi decisiva para a persistente deterioração das contas públicas, que resultou agora em nosso rebaixamento na classificação de risco.
[su_quote]Dilma precisa pensar acima de tudo no bem-estar dos brasileiros, com a convicção de que já se excedeu na defesa dos próprios interesses e dos de seu partido[/su_quote]
A presidente deixou também suas digitais na moeda e no crédito, mantendo Tombini à frente do Banco Central para ter certeza de que teria sempre a última palavra.
Mas imagine agora que Dilma encaminhe ao Congresso um programa emergencial de controle de gastos públicos para seus três próximos anos de governo, garantindo superávit primário crescente, de 1%, 2% e 3% do PIB, como proposto por Armínio Fraga em “O Globo” de ontem.
Imagine também que a presidente tivesse sucesso em convencer a assumir o Banco Central o próprio Armínio Fraga, o que lhe seria certamente ainda mais desagradável de fazer e difícil de conseguir do que foi nomear Levy seu ministro da Fazenda.
Dilma estaria se propondo a devolver o país à mesma rota em que o recebeu, com as finanças públicas razoavelmente em ordem, um Banco Central operacionalmente autônomo e a inflação de volta à meta dos 4,5% ao ano. A flexibilidade cambial terá feito o ajuste das contas externas.
A presidente não será a primeira a reescrever sua biografia corrigindo erros anteriores. Os pais do Cruzado cometeram todos os erros concebíveis em um plano de estabilização. Evitando alguns deles, brindaram-nos depois com o bem-sucedido Plano Real. Os tucanos só aderiram ao câmbio flutuante e à responsabilidade fiscal no segundo mandato de FH, em resposta a desastrosos equívocos anteriores. Dilma precisa pensar acima de tudo no bem-estar dos brasileiros, com a convicção de que já se excedeu na defesa dos próprios interesses e dos de seu partido.
Fonte: O Globo, 14/9/2015
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