A divulgação do teor da delação da Odebrecht deixou o Brasil perplexo. A exposição do modelo operacional da empreiteira descortinou os bastidores da política. Um teia de corrupção e tráfico de interesses que se tornou o sistema informal-institucional pelo qual os negócios que envolvem os governos e interesses privados são tratados. Uma verdadeira aula sobre o funcionamento do submundo do Brasil real.
Esse modelo não conhece ideologia. Foi responsável pelas campanhas e vitórias da classe política que dirige o Brasil desde a redemocratização. Por seus escaninhos passaram campanhas de diversos partidos, políticos variados e ideologias diversas.
Isso explica porque um arco tão amplo de lideranças das mais diferentes vertentes são citados pelos delatores. O elo entre empreiteiras e políticos gera uma dependência mútua e ambos se retroalimentam em suas necessidades. São entidades praticamente complementares.
Diante de um governo grande, com ramificações nos mais diversos segmentos da economia, o Estado tornou-se um alvo natural do oportunismo. A proximidade com os políticos naturalmente facilita o fechamento de negócios.
Dessa equação começa a surgir o resultado que temos presenciado nas últimas décadas. Partidos ocupam estatais, que contratam empreiteiras, que superfaturam obras, que repassam parte desses recursos em doações para que partidos se reelejam e continuem controlando as estatais. Um sistema, como já dito aqui, que se retroalimenta e necessita de duas pontas para funcionar: empreiteiras e políticos.
As ramificações da corrupção espalham-se por toda administração pública e não estão restritas somente ao caso das empreiteiras. No caso do mensalão foram as agências de publicidade. Os escândalos se empilham, enquanto novas formas de desviar recursos são gestadas. A Lava Jato já chegou ao setor elétrico e não tardará até bater nas portas do BNDES. Especula-se que Correios e Caixa Econômica Federal possam também entrar na lista.
Nas estatais encontram-se braços robustos desse modelo de corrupção. No âmbito federal, hoje são mais de 150 empresas controladas pelo governo. A Petrobras é apenas uma delas.
Dizia o Professor Roberto Campos que “em um Estado grande, invariavelmente os assistentes passam melhor do que os assistidos”. Não há dúvida de que ele estava correto.
O gigantismo do governo brasileiro, difícil portanto de ser auditado por órgãos de controle, possui uma enorme margem para corrupção. A única forma de estancar essa sangria é diminuir o tamanho do governo, privatizando empresas públicas e deixando a economia sob o controle da sociedade.
Os brasileiros podem ser responsáveis pelo seu próprio destino, ao invés de um grupo de burocratas enclausurados em Brasília sem qualquer compromisso com a produtividade ou contato com o Brasil real.
A Odebrecht expôs o escárnio. Caberá à população coragem de viver sem o amparo irrestrito do Estado para se livrar do grande mal que coloca nossa nação em perigo.
Fonte: “O Tempo”, 17 de abril de 2017.
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