A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apontou em relatório divulgado nesta quinta-feira que houve aumento nos casos de violência contra os profissionais da categoria em 2015, em comparação ao ano anterior. Foram registradas 137 ocorrências, contra 129 em 2014. De acordo com o levantamento, dois jornalistas foram assassinados em 2015 no país — em 2014, foram três mortes. Ao mesmo tempo, houve aumento no número de outros comunicadores mortos: foram nove assassinatos em 2015 (cinco radialistas, dois blogueiros e dois comunicadores populares), contra quatro em 2014.
O jornalista Evany José Metkzer foi assassinado em Minas Gerais, enquanto o jornalista paraguaio Gerardo Ceferino Servián Coronel foi morto em Mato Grosso do Sul. Os radialistas Djalma Santos da Conceição, Francisco Rodrigues de Lima, Gleydson Carvalho e Ivanildo Viana e Patrício Oliveira, os blogueiros Ítalo Eduardo Diniz Barros e Roberto Lano e os comunicadores populares Israel Gonçalves Silva e Soneide Dalla Bernadina foram as outras vítimas fatais.
— A violência por encomenda, que era caracteristicamente direcionada aos jornalistas, passou a atingir também radialistas, blogueiros e comunicadores populares. À exceção dos radialistas, são áreas que estão menos protegidas e, portanto, ficam mais expostas à violência. Não houve aumento no número de mortes de jornalistas, mas sim entre os radialistas, comunicadores populares e blogueiros — explica o presidente da Fenaj, Celso Schröder.
O documento também ressalta que os policiais militares e legislativos foram os principais responsáveis por agressões à imprensa em 2015. De acordo com a federação, estes policiais representaram 20,44% do total de 137 casos registrados no ano passado e figuram no topo da lista desde 2013, quando manifestações de rua tomaram o país. Em seguida, aparecem políticos e seus assessores e parentes (15,33%), manifestantes (13,87) e populares (9,49%).
A região Sudeste continua a concentrar o maior número de ocorrências e representa 41,6% do total, com 59 casos, seguida do Nordeste, com 29 casos. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro são apontados como os mais perigosos para a imprensa.
Tradição de impunidade
Houve ainda 49 casos de agressão física, 28 episódios de ameaças ou agressões físicas, 16 casos de agressões verbais, 13 registros de impedimento do exercício profissional, nove casos de cerceamentos à liberdade de expressão por meio de ações judiciais, oito prisões e um caso de censura. A Fenaj contabiliza ainda dois casos em que a categoria foi atingida como um todo, em episódios contra a organização sindical.
Schröder, acrescenta que os episódios de violência relacionados às manifestações — que explodiram em 2013 e também foram elevados em 2014 — diminuíram. Ele defende a federalização das investigações, nos casos de crimes relacionados ao exercício da imprensa, e a instalação de um observatório, pelo Poder Executivo, que possa acompanhar com mais precisão os dados referentes à violência.
— É uma forma mais eficiente de acompanhar as denúncias, os processos e reduzir a impunidade — afirma Schröder. — São números ainda expressivos, que não condizem com o estado de direito e com um país que preza pela informação como elemento estruturante do estado de direito.
A vice-presidente da entidade, Maria José Braga, destacou a tradição de impunidade nos casos de violência contra profissionais da área. Na maioria dos casos, os responsáveis não são identificados e punidos. Dos 11 jornalistas e comunicadores assasinados em 2015, apenas as investigações da morte do radialista Gleydson Carvalho, no Ceará, tiveram andamento.
— A impunidade é combustível da violência. Essa não era uma profissão de risco em sua essência, mas se tornou— disse Maria José.
Fonte: O Globo.
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