Crescimento econômico é o selo de qualidade dos governos. É o que importa no fim do dia. De quebra, é uma importante proteção contra intempéries e antídoto para acidentes de percurso.
O baixo crescimento, cedo ou tarde, compromete os indicadores sociais, pode tornar o ambiente social mais instável e dificulta alianças políticas. Na economia, prejudica indicadores fiscais e torna o país mais vulnerável ao ambiente externo e ao humor dos investidores.
As fragilidades política e econômica causadas pelo baixo crescimento se retroalimentam, e acabam respingando na condução da política econômica, reduzindo muitas vezes sua flexibilidade. Neste caso, é maior o desafio dos governos que desejam promover mudanças de rota, pois o custo da mudança pode ser visível e imediato, enquanto que o benefício pode demorar e tende a ser difuso, dificultando as tomadas de decisão em um ambiente social e político mais frágil.
Por tudo isso, o quadro atual de estagnação do Brasil preocupa muito.
Os indicadores sociais já têm sido impactados, como indicado pela PNAD de 2013, que mostrou estagnação na distribuição de renda e piora nos indicadores de pobreza.
O quadro social parece mais desafiador, pois a nova classe média está mais vulnerável. O cenário para consumo das famílias deteriora-se pela combinação de inflação elevada, baixa geração de vagas de trabalho e endividamento elevado das famílias. O sonho de consumo prometido pelo governo e frustrado pela realidade poderá cobrar seu preço.
Passada a campanha eleitoral, que ajudou a inflar os índices de aprovação do governo, a piora em curso da confiança dos consumidores poderá afetar o capital político da presidente. Poderá ser um ingrediente a mais de instabilidade no intrincado quadro político. Chama a atenção a elevada frequência com que analistas políticos utilizam o termo “crise política” para caracterizar os riscos adiante.
Vale acrescentar a potencial pressão das bancadas estaduais no Congresso por conta das perdas de arrecadação dos entes subnacionais, o que pode se traduzir em mais riscos à política fiscal e empecilho à desejada reforma tributária. A recente mudança do indexador de dívida de estados e municípios e a elevação das transferências do fundo de participação dos municípios, ambos sem estarem inseridos em uma agenda mais ampla de ajuste fiscal e reformas, não são bons sinais.
A retomada do crescimento não será tarefa fácil, exigindo retificação do discurso de campanha e interesses contrariados. E o custo da mudança de rumo poderá ser maior, sobretudo pelo déficit de credibilidade do governo.
Como agravante, não parece haver, por ora, uma estratégia para retomar o crescimento. A retórica oficial tem sido que o mundo vai crescer mais e que o Brasil está preparado para se beneficiar deste movimento, pois os alicerces foram construídos. Alega-se que choques/eventos como seca, Copa do Mundo e eleições impediram o crescimento da economia brasileira em 2014. E que não fossem as “políticas anticíclicas”, o quadro seria mais grave.
Numa perspectiva de mais longo prazo, afirma-se que o efeito cumulativo da apreciação cambial é a causa da estagnação da indústria, que por sua vez já vem ameaçando os demais setores da economia. Assim, alguns interlocutores do governo defendem uma política cambial mais ativa, sem a compreensão que a taxa real de câmbio não é uma variável passível de controle do governo, principalmente dadas nossas escolhas de política econômica.
É importante que haja uma compreensão de que inflação elevada, colapso da política fiscal e intervencionismo estatal prejudicam o crescimento. Aquilo que é visto com solução é na realidade a causa do baixo crescimento. O baixo dinamismo da economia é fruto da política econômica adotada, que paralelamente agrava o contágio do modesto ciclo mundial sobre a economia brasileira.
Diálogo e choque de credibilidade são defendidos, por muitos, como saída para a armadilha atual. Infelizmente não há atalhos. Certamente a credibilidade do time econômico, com competentes policy-makers, é um ingrediente importante, mas o desafio vai muito além.
A palavra “ajuste” não faz jus ao real desafio do próximo governo. Será necessário o governo blindar e apoiar o time econômico para que seja conduzida uma reorientação da agenda econômica, de modo a viabilizar a volta do crescimento.
Um governo reativo, que se limite a apagar incêndios e a fazer ajustes pontuais, poderá comprometer a agenda do país nas três principais dimensões, econômica, social e política. Se assim for, corremos o risco de mais uma “década perdida”.
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