Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre alguns negócios feitos usando moedas digitais como Bitcoin, Ethereum, entre outras. E deve ter se perguntado: o que são, para que servem e quem pode usar essas tais criptomoedas?
Para começar, é importante entender que criptomoeda é o nome dado a moedas virtuais descentralizadas, ou seja, que não possuem um órgão ou governo responsável pelo controle, intermédio e autorização das operações. São criadas em uma rede blockchain [sistema que permite o envio e o recebimento de alguns tipos de informações pela internet] a partir de sistemas avançados de criptografia que protegem as transações, informações e os dados de quem faz as operações.
O advogado e especialista em disputas comerciais Bruno Salama, explica que o Bitcoin, por exemplo, pode ser entendido como um candidato para substituir ou concorrer com o ouro. Ouça o podcast!
“A função monetária do ouro é basicamente servir como reserva de valor, muito mais do que como meio de troca. Você guarda o ouro, mas ninguém faz compras com o ouro. Entendo que o Bitcoin, com o tempo, se torne um mecanismo de reserva de valor similar ao ouro”, explicou.
Nesta analogia, Bruno Salama destaca que, portanto, a moeda digital concorre muito mais com o ouro do que com o cartão de crédito, pois para usar o Bitcoin como meio de pagamento ainda é necessário ultrapassar alguns obstáculos.
“Primeiro, o valor do Bitcoin oscila muito e faz com que ele se pareça mais com algum outro ativo qualquer do que com uma moeda. O segundo problema é que é muito difícil tornar seu uso difuso para os bilhões de pagamentos que acontecem a toda hora, pois o blockchain, onde é registrado o bitcoin, é um pouco lento em comparação com os mecanismos usuais de pagamento, como cartão de crédito e débito”, pontuou.
Ambientes de negócios para os governos
Apesar de ser um assunto aparentemente complexo, alguns governos já estão fazendo uso das moedas digitais e há, inclusive, a expectativa de que o Banco Central do Brasil também adote o formato para transações.
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“Os governos podem fazer negócios com criptomoedas. Como o Banco do Brasil que recentemente se tornou o primeiro banco estatal do mundo a oferecer um ETF (Exchange Traded Funds) de criptomoedas, ou seja, um fundo de investimento gerido de forma que a sua carteira tenha a composição mais próxima possível de um índice qualquer”, apontou.
Assim, para Bruno Salama, as criptomoedas podem ser um tipo de negócio para o governo voltado ao lucro e, em um sentido mais amplo, é possível entender que a emissão de moedas pela Casa da Moeda é também um modo de negócio.
“Quando se fala na geração de novos negócios com criptomoedas para os governos, o que está sendo sugerido é a criação de uma moeda digital de banco central, e essa moeda é a infraestrutura pública de divisão de base monetária. Eu não classificaria a moeda digital de Banco Central como uma criptomoeda, pois nesse caso, seria uma moeda mesmo, ainda que de maneira criptografada e digitalizada”, apontou.
Criptomoedas podem ajudar a reduzir a burocracia
O especialista também explica que existem diversas maneiras de diminuir a burocracia encontrada pelo setor privado na hora de desenvolver seus negócios. No entanto, é preciso saber que existem desafios, como o monitoramento de condutas e depois a prova e execução dessas obrigações em juízo.
“Os smart contracts, os contratos inteligentes ou auto executáveis, podem reduzir esses problemas, justamente porque eles já provêm o mecanismo de monitoramento e prova de forma automática”, afirmou.
Mas ao pensar nas criptomoedas com funções estritamente monetárias, o tema fica um pouco mais complexo, pois essas criptos competem com a capacidade do governo de emitir moedas para realizar suas obrigações.
“É possível antever usos dos Stablecoins (também chamadas de moedas estáveis e podem ser atreladas a uma criptomoeda) bem concretos, nos sistemas de pagamentos, por exemplo. Para dinamizar pagamentos e ajudar as pessoas a economizarem nos custos de transação”, esclareceu.
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Outra forma de uso seria nas operações de remessa internacional, que atualmente são feitas nos bancos e com custos altos.
“Não é, ao meu ver, irrazoável pensar nas Stablecoins ou mesmo nos Bitcoins como substituto do Swift, que é um método para comunicação entre bancos para pagamentos internacionais. Inclusive, já é possível observar usos das criptos como alternativas ao Swift”, concluiu.
O uso das criptomoedas tende a crescer ainda mais no futuro. Há quem diga que essa será a principal forma de transação daqui uns anos, no entanto, ainda é cedo para afirmar. É preciso saber que se trata de um modelo que vai impactar o sistema monetário e que tem tudo para cooperar com a desburocratização, bem como alavancar o desenvolvimento econômico do país.