Enquanto a recessão começa a perder força e o mercado de trabalho dá sinais de estabilização no país, o Estado do Rio de Janeiro anda na contramão. Segundo dados divulgados na quinta-feira pelo IBGE, a taxa de desemprego no Brasil caiu de 13,7% para 13%, entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. No Rio, o número subiu de 14,5% para 15,6%, uma alta de 1,1 ponto percentual. Por trás desse movimento, está a crise fiscal fluminense. Estudo do Tesouro Nacional revelado também na quinta indica que o estado se mantém na lanterna das contas públicas do país: segundo o novo Boletim de Finanças dos Entes Subnacionais, o governo fluminense está há pelo menos três anos nessa situação, com nota de classificação D, a mais baixa da escala.
Entre os seis estados que apresentavam nota D ou D+ (as mais baixas na classificação de saúde fiscal medida pelo Ministério da Fazenda) em 2015, apenas o Rio não teve melhora. Mesmo Rio Grande do Sul e Minas Gerais, também em situação fiscal complicada, melhoraram seus resultados em 2016. No ano passado, as despesas com folha de pagamentos no Rio cresceram 6%, para R$ 33,67 bilhões, enquanto na média do país a alta foi de só 4,7%.
SEM SALÁRIOS, R$ 3,3 BI DEIXAM DE CIRCULAR
A crise fiscal do Estado do Rio, segundo especialistas, é a principal razão para a piora no mercado de trabalho fluminense. O salto no desemprego no Rio foi o segundo maior do país, atrás apenas de Pernambuco, onde a taxa subiu de 17,1% para 18,8%. Manuel Thedim, economista do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), lembra que a folha de ativos e inativos representa uma injeção mensal de R$ 3,3 bilhões na economia fluminense. Quando os salários atrasam, é este o volume de dinheiro que deixa de circular.
— A incerteza afeta o consumo totalmente. O servidor não sabe se vai receber no mês que vem e para de gastar. Há ainda o corte de investimentos da Petrobras, além da crise política, mais intensa aqui no estado. É a tempestade perfeita para o tipo de crise que a gente vive — afirma Thedim.
O economista Fernando Holanda de Barbosa Filho, da FGV, aponta que os problemas do Rio — nas áreas fiscal e de trabalho — foram postergados pela Olimpíada. De fato: em 2015, na esteira da preparação para os Jogos, a taxa de desemprego se manteve abaixo da média nacional. Disparou após o fim da euforia com o evento e a desmobilização de áreas como construção civil e serviços.— A Olimpíada ajudou o estado do Rio, não só (com os empregos gerados) nas obras, mas na ajuda que o estado recebeu do governo federal para evitar o caos durante a festa. Passada a Olimpíada, a realidade bate à porta — analisa.
João Saboia, da UFRJ, acrescenta que a escalada da violência no Rio agrava o desemprego.
Na média do Brasil, a taxa de desemprego recuou, mas o país ainda tem 13,5 milhões de desempregados. E o número de brasileiros subocupados, ou seja, que estão disponíveis para trabalhar e não buscaram vagas e os que gostariam de trabalhar por mais horas, é ainda mais elevado. O levantamento mostra que falta trabalho para 26,3 milhões de pessoas. Além disso, outros 2,9 milhões estão em busca de uma vaga há mais de dois anos.
Fonte: “O Globo”
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