A falta de chuva e as mudanças climáticas são algumas das principais causas da crise de geração de energia elétrica do Brasil. Com um dos maiores períodos de seca da história do país, existe a preocupação de que falte água nos reservatórios das usinas hidrelétricas para sustentar a procura por energia. O fato pode prejudicar o tão esperado crescimento econômico após a pandemia e, também, levanta questionamentos sobre a ausência de inovação do setor.
Diante desse cenário, há o desdobramento de um outro assunto, que é o aumento das tarifas de energia elétrica. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues, explica que esse acréscimo tem a ver com a relação entre a tarifa de energia e a oferta de energia, uma vez que se trata de uma matriz hídrica, com uma quantidade alta de inserção e geração de energia hidráulica. Ouça o podcast!
“Quando não chove a gente tem o problema de falta de água e, consequentemente, um problema de falta de energia. As tarifas começam a subir, e se tem exatamente esse sistema: menos oferta e grande demanda por energia”, analisou.
Como forma de suprir a necessidade de energia quando esses problemas hídricos acontecem, Pedro Rodrigues comenta que “geralmente há uma ligação com as usinas térmicas, que têm uma tarifa mais cara, logo essa tarifa é repassada ao consumidor via bandeiras tarifárias e por isso o aumento dos preços”.
De acordo com dados históricos, a atual crise hídrica do Brasil pode ser considerada a pior dos últimos 90 anos. Mas vale ressaltar que como se trata de uma questão diretamente associada às mudanças climáticas, não acontece apenas no nosso país, mas também no mundo todo, e de diferentes formas.
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“Podemos ver esses movimentos do clima em outros lugares. No Brasil há a crise hídrica, na Califórnia podemos ver frios e calores extremos, além de furacões com mais frequência. Então na minha opinião, uma possível explicação para essa crise passa pelas mudanças climáticas, que envolvem também o desmatamento da Amazônia e outros fatores que culminam na falta de chuva e, obviamente, na falta de água”, esclareceu.
Inovação no setor pode ser solução
Passamos por um período de transição energética, em que há uma preocupação global com a sustentabilidade e, portanto, com a descarbonização, já que muitas fontes de geração de energia ainda são de combustíveis fósseis, como o gás natural, o óleo combustível, entre outros.
Assim, aos poucos estão surgindo inovações voltadas para a geração renovável, além de discussões sobre o uso de novas possibilidades, como o hidrogênio verde, por exemplo. O desafio está em encontrar tecnologias economicamente viáveis.
“Temos que pensar nessa velocidade de transição. O Brasil tem uma matriz elétrica das mais limpas do mundo. Na minha opinião, falta inovação sim, mas é um problema mais global. Falta, principalmente, repensar nosso sistema elétrico e ter mais fontes de maior segurança e confiabilidade, principalmente usando o gás natural, que é uma riqueza que o Brasil tem e que tende a ter uma produção cada vez maior nos próximos anos”, explicou.
Para diminuir os efeitos causados, o governo tem tomado medidas a curto prazo, como a importação de energia da Argentina e do Uruguai; o programa de economia voluntária com incentivos para os consumidores; leilões emergenciais; entre outros. Mas Pedro Rodrigues adianta que “talvez essas medidas não sejam 100% efetivas e ainda estamos torcendo pela chegada da chuva, são muitas variáveis que precisam estar todas reunidas para que a gente consiga escapar de um possível racionamento, como o apagão”.
Já a médio e longo prazo, a ideia é repensar o papel da hidrelétrica e o uso da água, que não é usada apenas para gerar energia, mas também para irrigar, para meios de transporte, saneamento básico, entre outras funções.
“Devemos pensar melhor sobre esse uso múltiplo da água e pensar em ter na base do sistema elétrico fontes como gás natural, além de fazer crescer nosso parque eólico. Também é preciso repensar sobre uma maior penetração de gasoduto no Brasil para a gente descentralizar a energia”, avaliou.
Mudança na lei de capitalização da Eletrobras
Recentemente, a Eletrobras anunciou que irá destinar R$5 bilhões para aliviar as tarifas e garantir contratos com as hidroelétricas. Mas, de acordo com Pedro Rodrigues, não se trata de uma estratégia da estatal, e sim do próprio governo para suprir necessidades imediatas.
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“O governo está tentando fazer uma modificação na lei de capitalização da Eletrobras para poder desviar parte desse recurso para reduzir tarifas. Mas esse incentivo que está sendo colocado para o consumidor, de redução e premiação, vai ser pago por ele próprio. Ou seja, nessa operação, o consumidor vai receber por estar economizando, mas vai precisar pagar lá na frente”, esclareceu.
Soluções pelo setor privado
Apesar de o setor de energia ser muito regulado, há espaço para o contribuição do setor privado, pois quanto maior a concorrência, menores serão os preços.
“A Eletrobras perdeu totalmente sua capacidade de investimento e, assim, é menos uma corrente nos leilões de energia. Agora essa capitalização vai trazer mais o setor privado, vai capitalizar na bolsa, se tornando uma empresa com muito mais caixa e muito mais possibilidade de investir nessas áreas de geração, transmissão de energia elétrica. E isso significa tarifa mais barata para o consumidor”, concluiu.
A crise atual, sem dúvidas, tem impactado a vida de toda a sociedade brasileira. Por isso, é hora de refletir sobre os problemas, tendo em mente que as soluções para o desenvolvimento do país não estão nas mãos do governo, mas sim dos cidadãos juntamente com o setor privado, que é quem gera inovação. Quanto mais buscarmos informação e cobrarmos ações de nossos representantes que cooperem para o aumento da liberdade econômica, mais vamos cooperar com o progresso do Brasil.