Até onde vai a crise financeira? O que indicam os modelos de previsão dos economistas? Em conferência realizada na Câmara de Comércio Americana há poucas semanas em Washington, o professor John Taylor, da Universidade Stanford, conhecido macroeconometrista, questionava suas próprias previsões sobre o desempenho da economia dos Estados Unidos em 2009.
Era desconcertante sua incredulidade ante a enorme incerteza trazida pelo “buraco negro” da implosão no crédito. O “credit crunch” desestabilizou os parâmetros dos modelos de previsão, descredenciando suas estimativas. Desmoralizou também os prognósticos de uma rápida recuperação. Como as leis da física clássica simplesmente não se aplicam nas proximidades de um buraco negro, imagine o desamparo de físicos bastardos diante da singularidade e da magnitude da crise.
E os efeitos sobre os países emergentes? O presidente do Banco Central do Chile, José de Gregório, que atenciosamente lembrou ter sido meu aluno nos anos 80, defendeu uma interrupção tática no combate à inflação. De Gregório considera importante observar a extensão do impacto da crise do crédito sobre os juros locais, a taxa de câmbio e os preços das commodities. Uma posição semelhante à adotada pelo Banco Central do Brasil.
Destaquei em minha palestra o papel crítico desempenhado pelo Federal Reserve, quando presidido por Alan Greenspan, na construção da crise. Robert Shiller, professor da Universidade Yale, acabara de atribuir a crise imobiliária, no mesmo painel, à psicologia das multidões, a uma espécie de mania, um fenômeno de psicologia social fora do alcance dos economistas. Perguntei-lhe como explicar a atuação do mesmo vírus simultaneamente nos mercados acionários, nos mercados de commodities e nos mercados de moedas. Afinal, não subiam apenas os preços das casas, mas também os do euro, do petróleo, do ouro e das ações. A “mania” era mais abrangente do que pensava Schiller.
Também nesse painel, Mohamed El-Erian, um dos gestores de um grande fundo de investimentos americano e autor de “Quando os mercados colidem” (2008), apontava inevitáveis mudanças no horizonte: (1) A economia americana tem pela frente um longo período de baixo crescimento, enquanto se cura do endividamento excessivo. (2) O crescimento global vai depender mais das economias emergentes. (3) Os países emergentes, por sua vez, vão depender mais de uma dinâmica própria de crescimento do consumo interno e menos do desempenho das exportações.
Alan Greenspan, presidente do Fed de 1987 a 2006, encerrou o seminário logo após esse painel. Estava acabrunhado, atônito e claramente na defensiva durante sua palestra. E na semana passada, em São Paulo, em agradabilíssimo debate com Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, percebi que não passo mesmo de um crítico bastante moderado do ex-presidente do Fed.
(O Globo, 17/11/2008)
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