10/12/2010
O 6º colóquio do Instituto Millennium reuniu em um hotel do Rio de Janeiro diferentes nomes da cultura e das artes no Brasil; em conjunto com empresários, jornalistas e estudantes, a discussão girou em torno do tema da política de fomento às artes. Roberto DaMatta, Moacir Góes, Diler Trindade, Fernando Shuler e Geraldo Carneiro falaram sobre cultura, e em seguida eram questionados pelos espectadores.
No início, o discurso parecia ser o mesmo para todos, uma insatisfação geral com a política cultural, centralizadora, do governo. Os presentes se perguntavam o porquê de praticamente todo o projeto cultural, para conseguir incentivos, precisar passar por Brasília para receber o aval do governo federal. Neste uníssono, chegaram a aparecer idéias absurdas, tal como importar as leis de incentivo do Governo dos EUA, como se a realidade brasileira não fosse diferente da dos nossos irmãos do norte.
Na segunda parte, porém, o debate esquentou, em uma discussão sobre se o Estado deve ou não proteger e incentivar a produção artística, mais especificamente o cinema. Diler Trindade, produtor de mais de 40 longas metragens, explicou um pouco da história do Brasil em relação às políticas de Estado para o cinema: Com a Embrafilme, eram produzidos cerca de 200 filmes por ano no Brasil, com a sua extinção no governo Collor, o cinema nacional praticamente acaba, chegando a produzir só dois filmes em um ano. Após sucessivas políticas de fomento, a produção nacional atual chega perto dos 200 filmes iniciais, mas o público que assiste cinema nacional ainda é muito restrito. Destes 200, somente 4 dão certo.
O produtor ressaltou os diferentes tipos de censura, polarizada entre Estado e Mercado, que o filme sofre na sua busca de financiamento. Se a política de incentivo tende para um Estado forte, muitas vezes o roteiro precisa se adequar à tendência ideológica deste ou daquele governo. Se é dominada pela iniciativa privada, está sujeito aos caprichos dos diretores de marketing das empresas.
A questão fundamental parece ser: Como o filme nacional pode fazer frente às outras cinematografias, em uma cultura globalizada mas dominada pelo cinema americano? Muitos defenderam o livre Mercado, que o Estado pare de proteger a cinematografia, que deixe esta ser regulada pelas leis do liberalismo clássico. Estas vozes eram capitaneadas por Fernando Shuler.
Do outro lado, Diler e Geraldo Carneiro enfatizavam a necessidade do incentivo governamental, enfatizando as formas de incentivo e protecionismo que o cinema americano, sempre ele, obteve do governo dos EUA ao longo de sua história.
Apareceram então duas possibilidades apocalípticas, que não estão tão longe assim de uma realidade futura. De um lado a instituição de uma comissão de notáveis por parte do governo, que vai decidir se este ou aquele projeto cultural pode receber patrocínio; este seria uma espécio de pesadelo estatista. Do outro, um pesadelo do livre mercado: Dentro de pouco tempo, com a tendência das empresas de telefonia de dominarem o mercado de comunicação no Brasil, o português vai acabar, e então começaremos a nos comunicar em inglês ou espanhol. Será que vamos nos tornar um país satélite, de quinta categoria?
Ao final, uma interessante discussão sobre a cultura brasileira, sobre a alma do brasileiro, e de como esta cultura pode ser comparada aos EUA, em termos de poder. Ao final, ficam as questões: Em uma época de guerra cambial, onde os Estados manobram para alterar o valor das suas moedas, ainda podemos nos ater aos princípios do liberalismo clássico? Será este ideário é o melhor para dirigir a cultura, composta por objetos tão complexos como as obras de arte?
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