O governo Temer prometeu reformas econômicas para sairmos do caos deixado por Dilma. Mas perdeu tempo demais tentando blindar a Velha Ordem
A quebradeira nas manifestações de rua em Brasília e a belicosidade em sua atuação no Congresso sugerem uma incapacidade das oposições em conviver com derrotas parlamentares, que são da própria essência da vida democrática. Podem ser contra uma reforma previdenciária, fundamental à recuperação das finanças públicas. Podem também estar contra uma reforma trabalhista que permita atenuar o flagelo do desemprego em massa. Mas não podem fazer prevalecer suas opiniões à base de arruaças, violência e depredações.
O Brasil não quer mais ser uma república das bananas. A classe política não pode estar acima das leis e, se acha que pode, não deve dormir em paz. O despertar do poder Judiciário anuncia novos tempos. O julgamento da História começa a se esboçar. Ante as evidências da corrupção sistêmica, já está claro que Joaquim Barbosa tinha um pé no futuro. Seu fervor republicano contra degeneradas práticas políticas transbordou para outros níveis da administração pública. Sergio Moro, Deltan Dallagnol e seus jovens e competentes colaboradores são forças de nosso aperfeiçoamento institucional. A Velha Ordem recua em fuga rumo às sombras em busca de fôlego.
“O Judiciário não pode servir de instrumento para perseguir inimigos e proteger amigos. A jurisprudência não pode ir mudando de acordo com o réu”, disse o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra a ideia de Gilmar Mendes de rever a decisão determinando a prisão de réus condenados em segunda instância quando a Lava-Jato chegou a Michel Temer (PMDB) e Aécio Neves (PSDB). “É preciso mostrar às novas gerações que o crime não compensa e que o mal não vence no final. Será uma pena se o Brasil retroceder nisso”, fulmina Barroso.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, deve agora resgatar sua promessa de posse: cumprir a agenda de reformas econômicas. Os partidos da base de sustentação parlamentar governista devem fechar questão pela aprovação dessas reformas, antes que o país retorne à rota do caos venezuelano em que estava. As doações de Joesley Batista a Lula, Dilma, Temer, Aécio e outros são agora problemas do Ministério Público, da Polícia Federal, do Tribunal Superior Eleitoral e do STF. A República espera que cada instituição cumpra seu dever.
Fonte: “O Globo”, 29/05/2017
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