Um filmete divulgado nas redes sociais pelo oposicionista Mauricio Macri, que disputará com o governista Daniel Scioli o segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, no próximo dia 22, traz de volta o clima da disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, que agitou o Brasil no ano passado. Nele, os marqueteiros de Macri apontam a divisão entre o “nós” e o “eles, que a turma da situação utiliza como cortina de fumaça para esconder a inépcia do governo, como um dos problemas a serem superados pelo próximo presidente. E denunciam o golpe baixo das alas próximas à presidente Cristina Kirchner, que espalham boatos de que os programas assistencialistas implantados nos últimos anos serão extintos no caso de vitória da oposição.
Foi mais ou menos o mesmo que se viu no Brasil de 2014 — que saiu da campanha, conforme a visão do lado vitorioso, dividido entre o Nordeste dos necessitados e o Sudeste rico e insensível. Separado entre os mocinhos “da esquerda”, que reivindicam o monopólio das boas intenções distributivas, e os bandidos da “direita” desalmada, que só querem espoliar os desvalidos. E assim por diante…
Mais quatro anos
É mais do que evidente que a Argentina de hoje, assim como o Brasil do ano passado, vive um colapso fiscal e que todos os esforços do governo de doña Cristina — com o dinheiro que ainda consegue levantar à custa de pedaladas — se dá no sentido de garantir mais quatro anos de poder aos bolivarianos que ocupam a Casa Rosada desde a posse de Nestor Kirchner, em 2003. E que, vença quem vencer, o país terá dificuldades para sair do atoleiro em que caiu por obra de uma série de administrações ineficientes, equivocadas e corruptas.
Esse é o cenário. A dúvida é saber se o resultado das eleições empurrará a Argentina para um quadro de paralisia semelhante ao do Brasil de hoje (o que fatalmente ocorrerá com uma vitória de Scioli) ou se a possível vitória de Macri fará da Argentina a líder da corrida antipopulista que tem ganhado corpo na América Latina nos últimos anos.
Populismo esgotado
O resultado do pleito, qualquer que seja o vencedor, terá impacto direto sobre a economia brasileira nos próximos anos. Desde 2003, o relacionamento entre as duas maiores economias da região tem sido marcado por concessões cada vez maiores do Brasil e reivindicações cada vez mais exageradas da Argentinas. E o Mercosul, concebido como um bloco capaz de aumentar a força da região no relacionamento comercial com os países mais ricos do mundo, foi reduzido a uma mera câmara de compensação de barganhas entre seus integrantes — em que o Brasil é tratado como o otário obrigado a baixar a cabeça e abrir a carteira para o cunhado perdulário.
Uma vitória de Macri pode não resolver o problema. Mas pelo menos sinalizará que o populismo se esgotou e que a paciência da população continental para promessas que não se sustentam de pé está no fim.
O filme mencionado na abertura deste texto, pode ser visto clicando aqui.
Fonte: Hoje em Dia, 08/11/2015.
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