Os investimentos feitos em educação nas últimas duas décadas não produziram resultado num dos principais problemas da área: a evasão escolar. Entre 2000 e 2015 o número de jovens de 15 a 17 anos fora da escola permaneceu estável, enquanto na maior parte do mundo diminuiu. De acordo com os dados mais atuais, 22% dos brasileiros nessa faixa etária, que representam 2,8 milhões de adolescentes, estão fora da escola. Em 2000, 43% dos 63 países que participam da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tinham índices de evasão menor do que o Brasil. Quinze anos depois, esse percentual subiu para 55%, o que significa que o país está hoje mais atrasado do que já esteve. Apenas 16% dos países avaliados pela entidade têm um número maior que o Brasil de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola.
As informações são do estudo liderado por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, em parceria com o Instituto Unibanco e a Fundação Brava. O estudo cruzou dados coletados pela OCDE, pela Unesco e pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE.
Esses dados são alarmantes. Eles evidenciam o fracasso das políticas públicas de educação voltadas para o ensino fundamental II (de 5º a 9º ano) e para o ensino médio, os dois períodos que concentram crianças daquelas idades. As consequências se dão tanto nos cofres públicos como na vida privada desses jovens e na sociedade. De acordo com os cálculos feitos por Paes de Barros, o custo de ter 2,8 milhões de jovens fora da escola é de R$ 98 bilhões.
Esse valor é calculado de acordo com os ganhos que o jovem que abandona a escola deixa de ter e os custos que essa decisão pode lhe causar ao longo da vida. A criança que não conclui o ensino médio ganha um salário menor ao longo da vida, tende a poupar menos, a ter hábitos alimentares piores e gastos maiores com problemas de saúde. Esse jovem também tem mais chances de se envolver com atividades ilícitas. Esse conjunto de fatores produz custos maiores para os serviços públicos. “Optamos pelos valores mais conservadores para fazer esse cálculo”, diz Paes de Barros. “Os custos podem ser muito maiores, principalmente, em relação a jovens que se envolvam com crimes.”
É difícil pontuar com objetividade os fatores que levam os adolescentes a deixar a escola. Eles podem envolver desde o desinteresse pelas aulas até a falta de estímulo na família e causas como gravidez precoce e necessidade de ir para o mercado de trabalho muito cedo. O que o estudo coloca como certo é que, sejam quais forem os fatores, todos eles impedem que o jovem se sinta engajado pelo ambiente escolar.
Chamar a atenção para a importância de produzir o engajamento do jovem é especialmente relevante neste momento em que a reforma do ensino médio está em curso. “Na teoria, essa reforma aborda questões que podem contribuir para o envolvimento do estudante com a escola, como é o caso da possibilidade de ele escolher as disciplinas que mais lhe interessem”, diz Paes de Barros. “A questão é saber quão efetiva será a implantação dessas mudanças”, diz ele.
Fonte: “Época”.
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