O Prêmio Nobel de Economia estava no escritório do presidente dos EUA e falou objetivamente: “Senhor presidente, essa tarifa sobre importação de aço não vai funcionar. É péssima economia e péssima política”. Foi em 19 de novembro de 2002, o presidente era George W. Bush e o Prêmio Nobel era Vernon Smith. Ele escreveu artigo recente, falando a mesma coisa para Trump.
Todos os presidentes dos EUA impuseram algum tipo de tarifa. Kennedy, Bush e Trump sobre o aço. Obama, sobre pneus chineses. Apesar de os economistas, de forma quase unânime, defenderem o princípio da livre circulação internacional de bens como fonte de prosperidade, a política não acredita. As tarifas pelo mundo vão e voltam, desde o início do século XIX.
Dois historiadores econômicos pesquisaram bem esse conflito. F W Taussig (“The Tariff History of The United States”) mostra a experiência do século XIX, quando o objetivo das tarifas era fiscal. Como cada tarifa fiscal tem sua curva de eficiência, e os donos do capital estavam sempre tentando ser os ganhadores, o conflito foi constante e inútil.
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O segundo historiador é Douglas A. Irwin, com seu gigantesco e recente trabalho, “Clashing over Commerce: A History of US Trade Policy”. Irwin divide a história tarifária americana em três períodos: o período fiscal, o período protecionista e, desde 1932, o período da reciprocidade. Irwin observa que o conflito contemporâneo é entre “nacionalistas econômicos” e “globalistas”. Trump seria um nacionalista econômico, em busca de reciprocidade. Mas Trump e sua turma são também saudosos protecionistas, que afirmam serem as tarifas a razão da industrialização americana. Para Irwin, são ignorantes em história. Seriam a imigração e o fantástico avanço tecnológico que explicariam a espetacular prosperidade americana de 1865 a 1915.
Trump e sua turma também poderiam aprender com o Brasil. Nosso país nunca conseguiu passar do período protecionista e hoje estamos numa posição ridícula. Nossa tarifa média é o dobro das da Índia e China, cinco vezes as do Chile, México e EUA. Quando as importações são de bens de capital, as tarifas podem ser dez vezes maiores. Somos um pária no comercio internacional. Nossa relação exportação+importação/PIB é a menor do mundo, metade das da Índia e China, um terço das do Chile e México e um quinto das dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Não teremos guerra comercial. Todos se lembram do desastre da tarifa Smoot-Hawley de 1930. E já deu para ver que o leão americano é manso. Nossa oportunidade é se sentar e negociar bem. Solicitar menores barreiras americanas. Não aceitar cotas. E oferecer baixar tarifas e regras de conteúdo local. A OCDE diz que o Brasil se beneficiaria muito de maior integração econômica. Impossível discordar. E mais integração beneficiaria principalmente os pobres.
A tarifa de Bush foi um desastre e removida no ano seguinte. Estudos mostraram que destruiu dez empregos para cada um que criou. Benefícios das tarifas sempre são para poucos e no curto prazo. Os custos são para muitos e se eternizam. Quem destrói empregos industriais é a automação, e não o comercio internacional.
Fonte: “O Globo”, 01/05/2018