Como liberal-democrata de boa estirpe, não estou politicamente representado por nenhum dos partidos atuais. Meu único suspiro limitou-se ao ano da retomada das eleições diretas no Brasil. Em 1989, quando coordenei a elaboração do programa econômico de Guilherme Afif Domingos à Presidência da República.
Divirto-me hoje com o ressentimento dos tucanos para com os petistas em busca dos direitos autorais sobre a autonomia do Banco Central no combate à inflação, o regime de câmbio flexível e a exigência de superávit primário no orçamento fiscal.
Afinal, tudo isso e muito mais que ainda falta para nosso bom desempenho econômico e para a redução das desigualdades sociais já estava no programa liberal-democrata que formulamos. De qualquer modo, antes tarde do que nunca.
Liberais-democratas do século XXI combinam o profundo respeito pelas virtudes das economias de mercado (que os republicanos americanos herdaram dos liberais clássicos dos séculos XVIII e XIX) com o sólido compromisso com os indivíduos desafortunados que os mercados deixaram para trás (a solidariedade que os democratas americanos, que se autointitularam “liberais” no século XX, herdaram das religiões e do socialismo).
É por isso que vejo com muito bons olhos a eleição do empresário Sebastián Piñera no Chile. Com sua vitória, a liberal-democracia surge como bem fundamentada alternativa aos socialistas e aos socialdemocratas. Ao contrário do que ocorre no Brasil, politicamente perneta, um saci-pererê que só tem a perna esquerda.
É compreensível que, pelo sentimento de solidariedade ou de nossa identidade latino-americana, tenhamos simpatia por figuras como Fidel e Chávez.
Mas só a desonestidade intelectual, a ignorância econômica ou a cegueira ideológica poderiam encontrar em seu surrado discurso socialista e populista qualquer esperança de futuro melhor para seus povos.
Há hoje dois extremos no espectro político latinoamericano, e claramente não se trata mais da obsoleta classificação de “esquerda” e “direita”. Tratase de um conceito evolucionário, de avanço civilizatório, de construção de um capital institucional moderno. “Nem à direita nem à esquerda, mas adiante”, como se referiu Alfredo Sirkis, do Partido Verde, em relação à candidata Marina Silva.
A questão é antiga, mas não há muitas dúvidas quanto a quem está no caminho certo para a construção da Grande Sociedade Aberta e quem repete tragicamente erros do passado.
Da ginástica em Esparta para o teatro em Atenas.
De uma sociedade tribal militarista para a democracia e o comércio no nascimento de uma sociedade aberta. Do pensamento mágico e da utopia coletivista para o raciocínio científico e a valorização de cada indivíduo. Uma escalada histórica em direção à Grande Sociedade Aberta. Embaixo, estão Fidel e Chávez. Muito acima, estão Bachelet e Piñera.
Falta-nos, na verdade, quem tenha a coragem de se assumir como a perna Direita do saci-pererê, destacando que direita nada tem a ver com ditadura. Ao contrário, pois as mais sangrentas, corruptas e ineficientes ditaduras foram e são, até hoje, de esquerda. Infelizmente, reina no Brasil de hoje a ditadura “politicamente correta” de dizer-se, no máximo, de centro, mas jamais um liberal de direita, com perfil ético e democrático. Coitado dos que assim se assumem, pois são apedrejados até pelos seus supostos pares ….