O Brasil é um país insular, excessivamente voltado a si. As discussões são centradas apenas nos problemas domésticos e nas questões de maior relevância do momento, sejam políticas, como no momento atual, sejam econômicas ou sociais. Contribuem a essa visão interior o tamanho do país e de suas dificuldades, a diversidade demográfica e o fato de estarmos no hemisfério sul, mais distantes dos grandes centros de desenvolvimento.
É fundamental ter bom entendimento do que ocorre no resto do mundo porque o Brasil está integrado à economia global e interage intensamente em todos os aspectos com os outros países. Hoje fazemos parte de um bloco de emergentes, que enfrenta dificuldades econômicas com algumas características comuns, apesar de termos o pior desempenho.
Brasil, Turquia, China e Rússia, entre outros, adotaram políticas econômicas com alto grau de intervencionismo governamental e cresceram fortemente na recuperação da crise de 2008. Mas os incentivos contracíclicos inevitavelmente se esgotaram. Hoje esses países sofrem desacelerações de crescimento e necessitam implementar dolorosos ajustes, consequência dos estímulos fiscais e de crédito excessivos e/ ou equivocados.
No resto do mundo, Japão e Europa, economias maduras, enfrentam alguns desafios parecidos, com problemas de crédito e de crescimento.
Nos EUA, a economia vai bem, com criação consistente de emprego –média de 200 mil ao mês. É uma economia que parece estar atingindo sua velocidade de cruzeiro, o que leva o país a voltar a ser o motor da economia mundial.
Em resumo, as coisas estão voltando ao normal após o boom do intervencionismo pós-crise. Cabe a nós enfrentar e resolver nossos problemas políticos de forma democrática e eficiente para focar na agenda econômica intensa e indispensável para a retomada da confiança e do crescimento. Sem confiança, não haverá retomada do crescimento. Mas torná-lo sustentável demanda mudanças necessárias, como as reformas fiscal e pró-crescimento. Quanto mais cedo forem implementadas, mais rápido voltaremos a crescer.
Este ciclo econômico é muito rico em exemplos de equívocos e acertos de políticas macroeconômicas. Das inovações dos Bancos Centrais nas economias desenvolvidas, como vimos na Europa semana passada, ao fracasso das experiências intervencionistas nos emergentes, aos pesados investimentos em produtividade dos americanos, às reformas na economia espanhola, à virada na Argentina, as lições abundam para quem quer aprender.
Mais do que nunca, o Brasil deve usar essas lições e estímulos do mundo externo. Olhar para fora pode ser um bom caminho para resolver as coisas aqui dentro.
Fonte: Folha de S.Paulo, 13/03/2016.
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