As crianças se orgulham de seus conhecimentos, ficam contentes em poder identificar e trocar detalhes sobre seus ídolos, artistas, jogadores, músicas, joguinhos, sites ou assuntos preferidos. Já os educadores brasileiros torcem o nariz quando se fala em decorar a tabuada. E os pais parecem não prestar atenção nisso. Por que é legal saber tanta coisa de cor e não seria legal decorar a tabuada?
O domínio de qualquer assunto – ou habilidade – requer doses gigantescas de informação, doses maciças de prática e, no caso de habilidades cognitivas superiores, boa capacidade de relacionar informações e de generalizar. A tabuada não é exceção – depois da ideia de quantidade, expressa pelos números, ela é a pedra fundamental do conhecimento matemático.
Nos países desenvolvidos os currículos dos dois primeiros anos escolares dão lugar de destaque à “fluência nos fatos fundamentais” da adição e subtração e, no 3º ano, da multiplicação e divisão. Isso é fundamental não apenas para fazer contas – mas para a criança poder resolver problemas “de cabeça”. Memorizar a tabuada é um pré-requisito importante e, em se tratando de pequenos números, mais eficiente do que recorrer a um dispositivo eletrônico para saber se 2 + 2 = 4. Além disso, como em qualquer outra situação, a memorização de fatos e procedimentos alivia a pressão sobre a memória — quando já sabemos a tabuada podemos prestar atenção no raciocínio. Sem ela, a criança corre o risco de uma “sobrecarga cognitiva” — e aí ela não consegue fazer nem a conta nem pensar no problema a resolver.
O conhecimento matemático básico se dá numa sequência: o conhecimento de procedimentos, memorização e o conhecimento declarativo. O conhecimento de procedimentos significa aprender a contar. Nascemos com a capacidade para contar pequenas quantidades. Ampliamos um pouco esse conhecimento entre os quatro e seis anos de idade. Contar nos dedos e usar referentes concretos ajuda muito. Para isso as famílias e escolas funcionam bem. Mas precisamos de prática para aprender a somar e subtrair quantidades maiores. O segundo passo consiste em desenvolver alguma forma de lembrar desses fatos. O terceiro, conhecimento declarativo, refere-se à capacidade de recuperar direta e automaticamente esses fatos para “declarar” quanto é 2 + 2. Essas duas últimas etapas vêm sendo desprezadas.
As evidências são gritantes: além da eficiência para resolver problemas do cotidiano, a memorização da tabuada é essencial para fazer cálculos mentais, a memorização e para servir de base para às aprendizagens subsequentes.
Portanto fique de olho: se a escola de seu filho não ensina tabuada, cuide para que ele aprenda. Quanto antes, melhor!
Fonte: “Veja”, 16 de fevereiro de 2017.
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