De acordo com Felipe Bruno, líder de Previdência da Mercer Brasil, consultoria especializada em Previdência, o debate sobre a reforma e a mudança demográfica promovem, gradualmente, uma nova cultura de poupança entre os brasileiros.
O Globo – Por que o tema da Previdência entrou na agenda?
Felipe Bruno – O grande estopim é o rombo fiscal no sistema, que acende a luz vermelha e nos obriga a tomar uma atitude. O sistema de repartição simples, como é o nosso, começa a ficar insustentável conforme a expectativa de vida aumenta e as taxas de fertilidade caem. Hoje, 44 pessoas, entre aposentados e crianças, dependem de 100 trabalhadores na ativa. Em 2060, a relação será de 67 para 100. A conclusão a que se chega é que a promessa de benefício será inviável daqui a 20, 30 anos.
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O Globo – Além do INSS, como o Brasil se compara a outros países na questão previdenciária?
Felipe Bruno – Fizemos um painel global sobre essas práticas. Em 2017, entre 30 países, o Brasil estava na 20ª posição. E são dois os principais fatores que jogam o país para baixo no ranking. Na Previdência pública, pesa a sustentabilidade do sistema; na previdência privada, o ponto fraco é a ausência de uma cultura de poupança. Por isso, apenas cerca de 10% da população brasileira têm planos de previdência complementar, sejam abertos ou fechados (fundos de pensão). Isso é muito pouco.
O Globo – Quais são as razões para esse baixo número?
Felipe Bruno – É uma questão cultural, educacional. O brasileiro não tem por hábito a poupança, talvez pelo passado de hiperinflação, embora essa razão já tenha ficado para trás. Somos uma sociedade voltada para o consumo. Mas a captação para fundos de previdência tem crescido, embora o alcance do sistema esteja longe do que o país precisa.
O Globo – Por que essa captação vem crescendo?
Felipe Bruno – Percebemos o aquecimento muito grande do debate sobre a Previdência, em função da tentativa de reforma que tivemos. A população está entendendo que, qualquer que seja a reforma, ela vai acontecer, e os benefícios fatalmente serão reduzidos. A outra questão é a dos custos médicos. Vemos uma população que, majoritariamente, não terá acesso à saúde privada na velhice. Por causa desses fatores, os brasileiros passam por uma mudança de cultura. As pessoas começam a acordar para isso, mas governo e empresas deveriam investir intensamente em programas de educação financeira.
O Globo – Como a queda dos juros, com a taxa básica (Selic) em seu mínimo histórico, tem movimentado o setor?
Felipe Bruno – Tem havido um apetite maior para investimentos menos conservadores, como os fundos multimercados ou aqueles focados no exterior. Há ainda acirramento na competição do setor e o lançamento de produtos com taxas mais atraentes.
Fonte: “O Globo”