O terremoto político que tomou conta do país nos últimos dias afetou drasticamente o debate econômico. Medidas que aqueceram a economia antes voltam ser discutidas, mesmo que não tenham sentido neste momento. Para o economista Marcos Lisboa, um dos principais formuladores da política econômica no primeiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, são propostas populistas e nada efetivas no combate à crise.
ÉPOCA – Como o Brasil sairá desse caos?
Marcos Lisboa – A preocupação neste momento é a seguinte: a discussão mais profunda sobre como enfrentar as dificuldades econômicas parecia estar começando a acontecer no fim do ano passado e no começo desse ano, mas recentemente o tema foi abandonado no debate público. E voltaram ao debate as soluções mágicas, fáceis, tão fáceis quanto incompetentes para enfrentar a crise. Medidas como expandir financiamento e alongar a dívida dos estados, em vez de enfrentar as reformas estruturais para evitar que a despesa pública continue crescendo. É incrível voltar a defender a adoção das mesmas exatas medidas que trouxeram o Brasil à grave crise que ele vive, como suposta solução para enfrentar a crise. Essas medidas causaram a crise. Voltaram as soluções oportunistas e populistas que apenas vão agravar o problema. Houve um retrocesso grande no debate econômico nas últimas semanas.
ÉPOCA – Como o senhor avalia o impacto dos últimos acontecimentos na economia?
Lisboa – Minha preocupação é que temos um quadro grave na economia e as lideranças importantes não entendem a gravidade dele. Agem como se algumas medidas de estímulo fossem resolver o grave problema que o país vive. O país caminha para vier a maior recessão da sua história, com inflação de dois dígitos. É uma crise grave, severa e longa, que agora começa a afetar o emprego dos chefes de família. Não há escapatória pra enfrentar essa crise que não passe por reformas estruturais difíceis, polêmicas, que devem ser adequadamente negociadas. A preocupação é com essa falta de clareza com a gravidade da crise e com debate necessário para superá-la.
ÉPOCA – Em outubro, o PMDB apresentou uma proposta de política econômica ao mercado. Em fevereiro o PT fez o mesmo. O senhor poderia comparar essas propostas?
Lisboa – Tem um debate sobre enfrentar as graves reformas, e acho que tem de outro lado uma solução que é muito mais um discurso de retórica para agradar militância do que de fato enfrentar o problema. Quem imagina que usar reservas é viável, que de alguma forma auxiliaria a retomada, que expandir mais uma vez o financiamento seria uma saída para o grave problema no Brasil, demonstra que não conhece, que não faz ideia das situações que o Brasil enfrenta, que não conhece as causas que nos trouxeram até aqui, que pulou os cursos de economia. É realmente surpreendente.
Fonte: “Época”, 17 de março de 2016.
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