O debate entre candidatos à presidência da República, levado ao ar pela Band, foi insosso, sem embate, pasteurizado. Colaborou para o fraco desempenho dos participantes a autocensura imposta pelas regras eleitorais e do próprio debate, os conselhos nem sempre acertados dos marqueteiros, a preocupação com o politicamente correto, a obrigatória exibição de bom-mocismo para atrair simpatias do eleitorado.
Acrescente-se que o debate teve início depois das dez da noite, horário tardio para a maioria dos brasileiros. Se muitos, excepcionalmente, foram dormir mais tarde, isso se deveu à partida de futebol transmitida no mesmo horário pela TV Globo. Como se sabe, no Brasil o futebol tem prioridade sobre qualquer outro acontecimento e se constitui como única fonte de interesse e orgulho nacionais. Por isso, a audiência no pico foi de 5,5% para os candidatos e de 36% para o Campeonato.
O candidato que ficou mais à vontade foi Plínio Arruda Sampaio, do PSOL. Sem nada a perder, porquanto suas chances de ganhar são nulas, ele fez graça, posou de representante dos movimentos sociais, fustigou os demais candidatos. Entretanto, com suas teses ultrapassadas mais parecia uma figura emergindo do século 19. Plínio só faria sucesso em Cuba ou na Coreia do Norte se nesses lugares houvesse eleições livres e permissão para expressar livremente o pensamento.
Marina, a candidata do PV, foi aconselhada por seus marqueteiros a compensar a fragilidade física com frases curtas e objetivas. Sem aceitar as provocações do candidato do PSOL, sorridente e aparentando bom-humor, ela não quis briga. Deixou de lado a ideologia e defendeu capitalistas e socialistas, pobres e ricos. Apresentou-se como pessoa boazinha que se preocupa com o futuro do planeta. Foi politicamente correta, mas não precisava chegar ao extremo de recitar para o menino Dado.
Dilma Rousseff, do PT, ungida por Lula da Silva como sua sucessora, demonstrava ter sido bastante treinada, em que pese as confusões quando dizia mil e corrigia para milhões, os tropeções na gramática, a busca nervosa de papéis nunca achados. Sua fala repetiu a ideia plebiscitária de FHC contra Lula, como se estes fossem os candidatos, e não ela e José Serra. Apresentou a divisão da história do Brasil, tão cara ao atual presidente da República, em “antes do nosso governo” e “depois do nosso governo”. O “antes”, como é habitual na fala petista, foi descrito de modo crítico e se referia a FHC. O “depois”, como tempo magnífico de redenção prodigalizado por Lula da Silva. Por conta disso, a candidata Rousseff privilegiou o mundo do marketing e não o real, pontificando, então, sobre coisas inexistentes como, por exemplo, o PAC, que em grande parte não saiu da intenção do governo ou programa Minha Casa, Minha Vida que surge às vezes em alguns leilões da Caixa Econômica. Prisioneira da imagem imposta que não corresponde à sua personalidade, Rousseff não conseguiu representar uma figura simpática, apesar das tentativas de sorrir de vez em quando.
José Serra, do PSDB, por conta de seu preparo político e da experiência em campanhas, foi o que se saiu melhor por ser calmo, didático, fluente. Entretanto, perdeu a grande oportunidade de ser mais veemente como oposição. Os três temas levantados de início pela TV, saúde, educação e violência, mereceram do tucano um tratamento ameno quando questionava a candidata do presidente da República. Serra não mencionou o caos do SUS; a péssima qualidade da educação, inclusive, as trapalhadas do Enem; não recordou o que dissera com relação à cocaína vinda da Bolívia e a causa da violência urbana ligada ao narcotráfico. Certamente, por falta de tempo, enquadramento no figurino de bom-moço apreciado de forma hipócrita pela sociedade, modo de ser tucano que responde com punhos de renda aos ataques do porrete petista, ele não mencionou a famigerada CPMF que Rousseff pretende ressuscitar; a compra de terras brasileiras por estrangeiros como está sucedendo em larga escala através da China; a censura dos meios de comunicação apresentada no programa de governo da petista; a compra dos caças da FAB, a situação perigosa e calamitosa dos nossos principais aeroportos; as usinas nucleares e seu impacto ambiental, custos e qualidade do projeto proposto pelo governo Lula da Silva; a desastrosa política externa que manchou a imagem do Brasil no exterior, mensalões, dossiês, enfim, muitos temas que poderiam ter sido levantados e não o foram.
Concluindo, o debate resultou tão insosso quanto a morna campanha em curso. Indiferente ao seu destino, o povo assiste ao futebol..
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