Foram os escândalos da política nacional que deram o tom da discussão no primeiro debate na TV entre candidatos a governador de São Paulo na noite desta quinta-feira. Em diversos momentos, o encontro foi usado para enaltecer candidaturas à Presidência da República. O presidente Michel Temer (MDB) e sua impopularidade recorde estiveram mais presentes no embate paulista do que no confronto entre presidenciáveis organizado também pela TV Bandeirantes na semana passada.
Participaram do debate 7 dos 12 candidatos a governador de São Paulo: João Doria (PSDB), Paulo Skaf (MDB), Márcio França (PSB), Luiz Marinho (PT), Marcelo Cândido (PDT), Lisete Arelaro (PSOL) e Rodrigo Tavares (PRTB).
O tom nacionalizado da discussão mostrou-se logo no primeiro bloco. Candidato do PDT, Marcelo Cândido não escondeu que fora ao debate disposto a colocar na roda o nome do presidenciável do seu partido, Ciro Gomes.
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— Somos do time de Ciro Gomes em São Paulo — disse o aspirante a governador, ao se apresentar ao eleitor.
Cândido foi uma escolha de última hora do PDT, quando o partido percebeu que Ciro ficaria sem quem defendesse sua candidatura no maior colégio eleitoral do país. Com baixa viabilidade eleitoral, o ex-prefeito pedetista encarou a missão.
— Ciro Gomes defende uma reforma tributária progressiva — afirmou, quando era perguntado sobre o impacto de um reajuste do teto salarial do funcionalismo paulista.
O jovem apoiador de Jair Bolsonaro (PSL) em São Paulo, Rodrigo Tavares (PRTB), não deixou por menos e deu cartaz também a seu candidato a presidente.
— Nosso partido inscreveu ontem Jair Bolsonaro para a Presidência da República e o general Mourão como vice. Pelo quilate dessas pessoas tenho a dizer que não há coligação mais honesta e justa no Brasil – destacou.
Candidato do ex-presidente Lula, Luiz Marinho (PT) reagiu:
— Falar que Bolsonaro é solução para o Brasil, faça me um favor. Ontem (anteontem) inscrevemos a candidatura de Lula. Com Lula presidente e eu governador vamos fazer uma grande transformação no estado, gerando empregos. Tenho muita honra de ser amigo do Lula.
Entretanto, não foram pelas palavras de Marinho que Lula entrou no debate. Quem introduziu o petista foi Doria, orientado na estratégia de se firmar como o antipetista da corrida estadual.
— Você é réu numa ação por causa da obra em um museu em São Bernardo do Campo assim como o presidente do seu partido, o Lula. Onde anda o Lula? Na prisão em Curitiba – disse Doria a Marinho.
Pouco depois, o candidato do PSDB ouviu cobrança por explicações sobre “malas de dinheiro” do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e as suspeitas de caixas 2 que recaem sobre o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB).
— Pode explicar as malas de dinheiro do Aécio e por que Alckmin entrou pelos fundos ontem (anteontem) no Ministério Público? — provocou Marinho.
Alckmin foi chamado a prestar depoimento em São Paulo em um inquérito que investiga caixa 2 em suas campanhas. Doria fez a defesa do tucano em suas considerações finais.
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—- Quero deixar claro minha defesa a Geraldo Alckmin. Ele é honesto, correto e íntegro, ao contrário, do seu líder que está preso.
Já o fantasma que assombrou Skaf no debate atende pelo nome de Michel Temer. O assunto caiu no gosto dos adversários, e o silêncio de Skaf sobre o tema só fez multiplicar as bordoadas. A mais dura veio do governador Marcio França (PSB).
— Imagina malas do Gedel (ex-ministro Gedel Vieira Lima). Pensar que isso possa vir para São Paulo é inaceitável. Candidato, me diz, você acha o Temer um homem honrado?
Visivelmente desconfortável no papel de candidato do presidente mais rejeitado da história, Skaf desconversou mais uma vez:
— Essa história de padrinho não deu certo no Brasil. Entrei na política para fazer de forma diferente. Nunca tive padrinhos. Eu fiz a minha carreira — respondeu.
Skaf está empatado com Doria na liderança das pesquisas e evitou um confronto direto com o tucano e vice-versa. Ficou clara a estratégia da dupla de não mexer em time que está ganhando.
Mas os adversários também se mostraram animados para pisar no “calcanhar de Aquiles” de Doria nesta eleição. O abandono do cargo de prefeito precocemente para disputar o governo estadual foi das munições mais usadas contra o tucano no debate.
— Quem muda de ideia constantemente é você que por 43 vezes prometeu que cumpriria seu mandato. Não traio meus amigos nem o povo — atirou Marcio França no meio de um debate sobre a proibição de caça ao javali em São Paulo.
O tema não foi o único a destoar no debate. França propôs pagar corrida de táxi a usuários de trens nos dias em que o serviço apresentar falha, Marinho afirmou que dobrará o salário dos servidores da educação e o jovem Tavares apontou como solução para a educação o uso de games virtuais na sala de aula.
Aliás, foi o nanico do PRTB quem roubou a marca registrada de Doria, se proclamando o “novo” de 2018. Encarregado de defender o legado de 24 anos de governos do PSDB no estado, o tucano foi o alvo preferencial dos adversários no debate programático. A cara fechada de Doria durante todo o debate foi sinal de que acusara o golpe.
Nesta sexta-feira, será a vez dos candidatos à Presidência da República se encontrarem para o segundo debate na TV. O encontro será organizado pela Rede TV.
Fonte: “O Globo”