Carlos Pereira
Carlos Pereira é cientista político e professor da FGV-Rio
“É muito grave. Alertava sobre isso no início: o governo Temer nascia com base parlamentar sólida, com uma certa lua de mel, mas numa ilha sujeita a terremotos. Talvez seja o primeiro terremoto e vai exigir do governo muita habilidade. Até então as críticas estavam fundamentalmente concentradas nos atores que circundavam o presidente. Gera desgaste muito grande, mas é preciso esperar para ver se a delação foi ancorada em provas e evidências concretas. A encruzilhada histórica que o Brasil vive hoje não é do governo Temer, mas da luta contra a corrupção, independente de quem esteja no governo. As saídas da crise são constitucionais, passam necessariamente pelo que a Constituição disser. Novas eleições não estão na Constituição. Isso sim seria um golpe (convocar novas eleições). As instituições políticas brasileiras já estão maduras o suficiente para evitarem soluções extraconstitucionais em qualquer crise. A eleição de 2018 ainda está distante. É bastante difícil que surja alguém de fora da política como alternativa real de poder, mas ainda é muito cedo. A situação do Aécio vai depender das consequências da punição que ele vier a sofrer mediante alguma investigação concreta. As pesquisas já mostram que ele vem enfrentando desgastes fortes, mas é muito cedo. Caso ele saia ileso, pode ser até que se fortaleça. É preciso saber qual vai ser o desfecho na Justiça.”
José Álvaro Moisés
José Álvaro Moisés é cientista político da USP
“É preciso ter muito cuidado com as revelações que estão vindo à tona porque elas têm um potencial extremamente importante de fazer uma limpeza na política brasileira, uma limpeza necessária. Mas não podem criar um ambiente para o impedimento das instituições, o Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal, o Ministério Público. As revelações da Lava-Jato são consequência de um funcionamento virtuoso de algumas instituições republicanas extremamente importantes. Estamos diante de uma situação muito delicada que irá exigir das lideranças políticas que ainda estão atuando, independente de saber se virão a ser indiciadas ou não, uma extrema responsabilidade: qualquer descuido pode significar desarmar todo o funcionamento do sistema político brasileiro, que tem muitos problemas, distorções. Mas a maneira de reformá-lo não é fazê-lo parar de funcionar.
A crise que vivemos é política, é econômica, mas também é de valores e de lideranças. Este é o desafio mais grave dos partidos no processo de redemocratização.
Novas eleições não são uma coisa simples de se fazer num curto espaço de tempo. O grande teste que nós vamos ter agora é sobre os partidos políticos. Eles, em situação de crise, em situação de risco, como estão sendo colocados, serão capazes de se renovar? Quem vai ser capaz de produzir alternativas?”
Fonte: Qualidade da Democracia, 16/06/2016.
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