A democracia está falha. O voto não mais realiza nossos sonhos de realidade; os partidos políticos viraram rasas empresas eleitorais; os governos perderam sua legitimidade institucional, sendo incapazes de bem mediar as pujantes forças antagônicas dos complexos jogos de poder. O fenômeno está posto e desnudo aos olhos de todos. Objetivamente, os instrumentos da política estão superados pela velocidade dos acontecimentos. Vivemos em um mundo digital, capitaneados por carroças políticas. Não há como dar certo.
Alguns pensam que o problema está no modelo da democracia representativa. Ledo engano. A questão não é de sistema, mas de mentalidade. Enquanto não resgatarmos os valores imateriais da política bem exercida, seguiremos a navegar perdidos na orfandade de lideranças. Sim, a verdadeira política é uma forma de tocar o coração das pessoas, levando a sincera esperança de que a vida pode ser melhor. Quando a política deixa de cativar nossos sentimentos morais, a democracia perde a sua força de coesão social, tornando-se questionável aos olhos do povo. Afinal, por que devo votar se minhas escolhas não mudam a nada?
O comodismo cívico – que apenas espera e nada faz – está sufocando a democracia. A hora exige iniciativa e ação. As pessoas estão cansadas de ser enganadas. A explosão de revolta pelas redes sociais reflete o atual mal-estar da civilização. Num clima de absoluto relativismo existencial, os cidadãos sentem-se desamparados em um mundo sem referências credíveis. Eis aí o grande drama das democracias contemporâneas: a carência de homens públicos confiáveis, preparados e modelares.
Ora, sem bons políticos, o voto apenas serve para escolher maus candidatos. Tal círculo vicioso precisa ser rompido. Não podemos mais entregar a gestão de nosso futuro a desonestos ou incompetentes. Sem demoras, temos que voltar ao passado e resgatar os altos valores que norteavam o exercício digno da vida pública responsável. Enquanto a política estiver em mãos venais, a democracia seguirá sendo um negócio corrupto.
Algumas de nossas melhores personalidades dedicaram suas vidas ao estabelecimento da liberdade em todas as suas formas. Embora não tenhamos o bom hábito do apreço à memória histórica, o viver tem infinitas possibilidades de recomeço. Não podemos permitir que o tempo vá sem deixar uma contribuição duradoura, pois o sopro da vida também é uma forma de eternidade. Ou será recompensador ser um nada antes do pó?
Fonte: “O Estado de Minas”, 28 de janeiro de 2017.
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