Com a morte da velha política agora em 2017, assistiremos ao anúncio do nascimento de uma nova política nas campanhas eleitorais em 2018
A histórica associação entre enormes estruturas burocráticas de administração centralizada e os regimes políticos degenerados é bem documentada. Tocqueville registrou a tradição dirigista de centralização administrativa francesa como eixo de autoritarismo encadeando através do tempo os regimes monarquista, revolucionário e bonapartista. O despotismo absolutista, o terror jacobino e as guerras napoleônicas tornaram-se possíveis pela concentração de poder inerente às engrenagens dirigistas.
Da mesma forma, a impressionante burocracia prussiana, da máquina militarista imperial aos correios, às ferrovias e à previdência social arquitetada por Bismarck, seguiu ampliando suas engrenagens muito além do Antigo Regime guilhermino. Proliferou em meio à avalanche social-democrata da República de Weimar, até atingir seu clímax no capitalismo de Estado sob comando do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Degeneração moral e política também do socialismo soviético do século XX ao socialismo bolivariano do século XXI.
Essa linha lógica costura os fatos nos últimos 40 anos da História brasileira. Os militares no Antigo Regime de 1964 e a social-democracia hegemônica desde a redemocratização, em 1985, empurraram os gastos públicos de menos de 20% para mais de 40% do Produto Interno Bruto. A corrupção sistêmica tem aqui suas raízes profundas, penetrando muito além da superfície política. Envergonhou os militares, devastou a “direita” fisiológica e desmoralizou a “esquerda” social-democrata. A Operação Lava-Jato devora o PT, o PMDB e o PSDB, grandes partidos que se revezam no poder há nove mandatos presidenciais. A morte da Velha Política agora em 2017 marca o fim de uma era, e as campanhas eleitorais em 2018 serão o anúncio do nascimento da Nova Política. Nossas instituições estão sendo testadas. O governo Temer se comprometeu com o controle de gastos, a reforma trabalhista e a reforma da Previdência. Seu eventual sucessor, Rodrigo Maia, assumiu a Câmara dos Deputados com os mesmos compromissos. Devem submeter as matérias ao Congresso, recorrendo ao “fechamento de questão” para sua aprovação. Sem isso, são alvos fáceis para as precipitadas sugestões de antecipação das eleições presidenciais. Nossa democracia segue em marcha.
Fonte: “O Globo”, 26/06/2017
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