O pluralismo político impõe diferentes percepções de mundo e distintos objetivos de vida. Por assim ser, viver em democracia é a arte de construir consensos mínimos que nos levem a uma governabilidade possível. Sim, governos democráticos trabalham com possibilidades e circunstâncias, as quais são sabidamente dinâmicas e cambiantes. Ou seja, a sociedade muda através do tempo, criando novas formas de interligação subjetiva. Indo além do natural dinamismo social, vemos surgir uma geração cívica que tem pressa da mudança, que não aceita mais estruturas atrasadas e que, pelo uso espontâneo das modernas tecnologias da informação, parte do virtual para chegar a realidades concretas.
Vejamos um exemplo recente da cena política brasileira: o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff não nasceu no seio parlamentar; sua origem está na tecnológica sociedade em rede que, através da soma de individualidades apartadas, criou um movimento coletivo em busca de um objetivo comum. Em outras palavras, testemunhamos a pulsante expressão de uma democracia viva que fez da retomada pacífica das ruas um gesto enérgico de preocupação política com o futuro do Brasil. De um simples querer virtual, avançamos para o território da atitude cívica estruturada, levando a história a desbravar novos desfechos para um plano pretensa e dolosamente estabelecido.
Nesse contexto transformador, a fronteira tecnológica poderá marcar um recomeço virtuoso para o projeto democrático. Definitivamente, o modelo corrupto de fazer política está em xeque; a sociedade brasileira não mais aceita ser governada por cafajestes em trajes de linho fino. A hipocrisia, a desfaçatez e o desapego à verdade se desesperam frente uma energia cívica renovadora que não aceita mais a mentira fantasiada em versões falsas. No entanto, não há milagres; a política não muda num estalar de dedos. Sem cortinas, estamos em uma transição de altos e baixos, mas o fundamental é que existe a firme convicção de que – como está – não há condições de continuar.
Como bem aponta Manuel Castells, “as culturas são formadas por processos de comunicação”. Logo, se quisermos uma melhor cultura democrática, teremos que aperfeiçoar os canais de comunicação política, ampliando a capilaridade da boa informação a partir de fontes confiáveis. Dessa forma, precisamos reescrever a opinião pública com uma linguagem que consiga captar as complexidades do mundo, transformando-as em informações acessíveis, idôneas e distribuíveis pelas infinitas redes tecnológicas.
Objetivamente, o modelo de mass media está em amplo processo de reestruturação, substituindo a padronização da mensagem por mecanismos de interação cooperada na via de trânsito informacional. Nesse cenário, emissor e receptor são integrados em uma pauta de simbiose criativa com vistas ao aprimoramento e circulação das informações de interesse coletivo. Para quem pensa que o jornalismo acabou, apenas se está a iniciar um novo ciclo cultural. Portanto, mais do que possível, a democracia pode vir a viver seus melhores dias.
Alguém ainda duvida das possibilidades reais da democracia tecnológica?
Fonte: “Gazeta do povo”, 8 de agosto de 2016.
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