Como sabem os leitores que acompanham esta série, estou escrevendo um conjunto de 12 artigos sobre nossa demografia, para socializar com o público um pouco do que aprendi lidando com o tema pela sua relação com os assuntos previdenciários. Depois de ter abordado o envelhecimento da sociedade, a mudança de perfil do país, a revisão da projeção populacional do IBGE, as novidades do Censo 2010 e a curiosidade de nascerem mais homens do que mulheres, hoje vou tratar das “ondas” associadas ao movimento de gerações.
Entre as diversas explicações para as fases de crescimento acelerado e de declínio dos países, dificilmente a questão populacional deixa de estar entre as causas da evolução de uma economia. O crescimento do Brasil até 1980, por exemplo, esteve em parte associado às ondas demográficas daqueles anos, com jovens brotando aos borbotões no mercado. No outro extremo, não há como dissociar a lentidão do crescimento do Japão nas últimas duas décadas ao que aconteceu com a sociedade daquele país, caracterizada pela forte elevação do contingente de idosos.
O objetivo desta nota é ir um pouco além da segmentação da população nos grupos tradicionais de “crianças e adolescentes”, “adultos” e “idosos” e dar uma espécie de “zoom” para o que se espera que aconteça com o mercado de trabalho em termos da composição das pessoas em idade ativa por sub-grupos etários. O que se pretende é analisar o que deverá acontecer com cada um dos sub-grupos divididos em faixas de 10 anos. A tabela apresenta as taxas médias anuais para períodos de 10 anos, entre 2000 e 2050, com base na revisão populacional do IBGE de 2008.
Como se pode ver claramente, a dinâmica da evolução da população por faixa etária segue uma dinâmica de “ondas”, ou seja, a taxa de crescimento de uma faixa em uma década tende a ser aproximadamente a taxa da faixa seguinte na década posterior. Por exemplo, o crescimento populacional no grupo de 0 a 9 anos entre 2010 e 2020 tende a ser muito parecido com o do grupo de 10 a 19 anos entre 2020 e 2030. Isso é especialmente válido quando se trata basicamente das mesmas pessoas, nas faixas em que a mortalidade é muito pequena. Na medida em que se vai progredindo nas faixas, como as taxas de mortalidade por faixas etárias são diferentes entre si, a taxa de crescimento da população numa faixa passa a diferir um pouco (ainda que mantendo a dinâmica) em relação à observada na faixa anterior uma década antes. De qualquer forma, a correspondência é clara. O declínio absoluto da população entre 10 e 19 anos na primeira década do século, por exemplo, vai se espelhar no “encolhimento” do sub-grupo entre 20 e 29 anos no período 2010/2020.
A importância desses dados reside em algo que merece um esforço de pesquisa mais denso do que os argumentos expostos em um curto artigo. Vou, porém, sintetizar meu ponto. Poucos duvidarão que é na faixa mais jovem de pessoas que se localiza o polo de maior produtividade em qualquer economia. Assim como um atleta de 20 anos corre mais do que um de 40, um trabalhador braçal de 25 anos tenderá a ser mais produtivo que um de 45 – e um economista de 30 anos poderá produzir mais artigos acadêmicos que aos 50.
No caso brasileiro, o sub-grupo de pessoas de 20 a 29 anos aumentou 2,70 % a.a. na década dos 80 e essa taxa caiu para 1,02 % entre 1990 e 2000. Já entre 2000 e 2010, ela aumentou para 1,44 %, após o que na atual década tal sub-grupo está encolhendo, refletindo a redução absoluta do número de crianças em anos anteriores. Na década de 2010, tal fato é em parte compensado pelo aumento de 1,50 % a.a. de um sub-grupo ainda muito dinâmico, o que vai de 30 a 39 anos. Observe-se, porém, que tanto a faixa de 20 a 29 anos como a de 30 a 39 anos irão declinar na próxima década. Na medida em que o mercado passar a ser dominado por “quarentões” e “cinquentões” (e falo como um deles…) que já não têm a produtividade e a criatividade dos mais jovens, conservar o impulso da economia vai se tornar mais difícil. Já na década de 2040, todas as faixas ativas estarão encolhendo – e só o sub-grupo dos idosos irá aumentar. O Brasil tem pela frente um desafio cujas dimensões ainda não foram percebidas pela opinião pública. E – o que é mais grave – nem pelo governo.
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2013
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