O ano de 2020 foi marcante para as healthtechs, startups do mercado de saúde. Com a pandemia e a crise econômica, as empresas do setor ganharam um destaque histórico, aponta Eduardo Fuentes, analista de investimentos do Distrito Dataminer, braço de inteligência de mercado da empresa de inovação aberta Distrito. Foram mais de US$ 100 milhões investidos em healthtechs, divididos em mais de 50 negócios fechados – o volume só perde para 2017, ano marcado pelos grandes aportes na startup Dr. Consulta.
“Tirando isso, foi o maior e mais representativo ano em volume de investimentos”, diz Fuentes. Com a entrada do capital, o ecossistema amadureceu. As consequências foram o aparecimento de novas soluções e o desenvolvimento dos produtos já existentes. “Surgiu um caminho para as healthtechs”, afirma o analista.
Outro número que mostra como 2020 foi marcante é o de fusões e aquisições (chamadas de M&As, no glossário das startups). No ano passado, foram 11 negócios fechados. Em 2019, tinham sido apenas três. “Até então, esse ecossistema não era tão investido. Havia uma certa dúvida se elas conseguiriam andar para frente, se seriam adquiridas. E isso aconteceu em 2020. Foi incrível”, diz.
Isso também se refletiu no número de startups de saúde. Segundo o Distrito Healthtech Report, o Brasil conta com 542 healthtechs. Em 2018, eram 248 apenas. Fuentes conta que os empreendedores tiveram que se adaptar ao longo do ano. No início de 2020, muitas empresas revisaram orçamentos, desenvolveram produtos e queimaram capital para se adequar à nova realidade. “Passado esse primeiro momento, veio o crescimento, atendendo à demanda da aceleração digital”, diz. Como exemplo, cita as startups de psicologia online e de telemedicina. “Adaptaram-se rapidamente para crescer em seguida.”
Mesmo assim, as empresas encontraram algumas dificuldades. Uma delas, compartilhada com todo o setor de tecnologia, foi a contratação de mão de obra qualificada. “Na saúde, não foi diferente”, diz. Outra questão foi a regulação. “Por lidar com a vida humana, esse mercado é mais regulado que o restante. Algumas burocracias podem dificultar o desenvolvimento das startups”, diz.
Outra característica de 2020 foi uma mudança no perfil dos empreendedores. Fuentes conta que, até 2018, era mais comum encontrar engenheiros ou administradores à frente das healthtechs. “Essa realidade está mudando. Temos visto mais pessoas com formação em saúde empreendendo.”
Tecnologia
Na sua visão, a inteligência artificial será cada vez mais relevante no mercado das healthtechs. “A pandemia foi um grande catalisador nesse sentido.” Segundo Fuentes, 25% das startups que usam inteligência artificial para soluções em saúde no mundo foram fundadas nos últimos três anos. “Existe uma oportunidade.”
Saúde mental
“Vai continuar a crescer e ser cada vez mais recorrente”, diz. Em tempos de pandemia e trabalho, essas soluções tiveram altos acessos. “Tendo a achar que isso não para em 2020.”
Detecção de câncer
Outra tendência apresentada por Fuentes é o diagnóstico precoce de câncer. “No mundo, entre os cinco maiores aportes de healthtechs, quatro foram em startups que atuam nesse campo.” No seu entendimento, essa é uma tendência lá fora e que deve crescer no Brasil.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”, 11/01/2021
Foto: Reprodução/Pexel