O Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos) acaba de divulgar relatório estabelecendo que o quarto trimestre de 2016 foi o último da recessão que começou no segundo trimestre de 2014.
Foram 11 trimestres de crise, com recuo de PIB de 8,6% entre pico e vale.
Houve, desde o início do século 20, cinco episódios de forte queda do PIB per capita: 1) o fim da Pax Britânica, com o início da Primeira Guerra, em 1914; 2) a Grande Depressão, em 1929; 3) a crise da dívida externa, em 1981; 4) a crise da hiperinflação brasileira, em 1990; e 5) o atual episódio, em 2014.
Para cada episódio, selecionei três estatísticas: a máxima queda percentual de PIB per capita, respectivamente 7,6, 7,9, 12,4, 7,7 e 9,4; a queda percentual de termos de troca, 46, 27, 33, 0 e 8; e anos que levou (no caso do atual episódio, levará) para ultrapassar o pico prévio, 3, 5, 6, 6 e 8.
Vê-se que o atual episódio é o segundo em perda de PIB per capita e o primeiro em extensão. Se a economia crescer 0,8% em 2017 e 2,5% em 2018, cenário do Ibre, e 3% nos dois anos seguintes, levará oito anos para que a renda per capita ultrapasse o pico prévio.
Há maior concentração de episódios depressivos no período mais recente, três episódios de 1980 até hoje, ante somente dois episódios de 1900 até 1979.
Há mudança na natureza dos episódios. Até a crise da dívida externa na primeira metade dos anos 1980, havia claro determinante externo.
Os episódios depressivos estavam associados a fortes viradas nos termos de troca e, muitas vezes, como certamente foi o caso nos anos 1980, forte elevação dos juros internacionais.
Os últimos dois episódios, a crise da hiperinflação brasileira no início dos anos 1990 e o atual, não resultaram de choques externos.
Em particular para o atual episódio, os juros internacionais se mantiveram nas mínimas históricas, e a perda de termos de troca, 8%, foi baixa.
A forte concentração de episódios depressivos nos últimos 40 anos coincide com o período de redemocratização de nossa sociedade.
Sinais de que temos tido dificuldade de negociar internamente um modelo de financiamento do crescimento econômico que produza simultaneamente crescimento com estabilidade macroeconômica e redução da desigualdade.
Exemplo prático dessa dificuldade é nossa incapacidade de politicamente tratarmos do problema do crescimento do endividamento público.
O Congresso Nacional não consegue aprovar a reforma da Previdência e simultaneamente não aceita elevar os impostos. O resultado é um impasse cuja expressão mais clara é o crescimento ilimitado da dívida pública.
A dificuldade de tratar o problema fiscal é um dos motivos que explicam o fato de a atual depressão ser a mais longa dos últimos 120 anos. Difícil imaginar o investimento crescer sem que a política produza um Estado solvente.
A ideologia contribuiu para determinar os contornos da crise.
Devido a uma popular interpretação do processo de desenvolvimento dos países de crescimento elevado do Leste Asiático, ressuscitamos, entre 2006 e 2014, agenda de desenvolvimento intervencionista: indústria naval; programa Inovar-Auto; R$ 400 bilhões do Tesouro para o BNDES; mudança do marco regulatório do petróleo; etc.
A agenda intervencionista não funcionou. Produziu sobreinvestimento em diversos setores.
Estes se endividaram e não conseguem gerar caixa. A digestão do sobreinvestimento alonga o processo.
Temos que esperar por 2019.
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