Depois de um primeiro trimestre forte, tanto de inflação quanto de atividade, estamos passando por um segundo trimestre em que essas duas variáveis apresentam desaceleração. O IPCA, por exemplo, deverá trazer números muito próximos de zero já em junho e deverá continuar baixo ao longo de julho e agosto também.
Por sua vez, o nível de atividade segue em baixa, principalmente puxado pela indústria, cujos resultados de abril e os preliminares de maio apontam queda na margem. A questão relevante agora é como interpretar essa desaceleração e saber se, de fato, o movimento pode ser identificado como uma tendência.
No caso da inflação, os números baixos que veremos agora são esperados por conta dos preços agrícolas. Parte importante da safra entra a partir de maio e a entressafra do álcool começa a perder efeito agora.
Vale lembrar que os hortifrutigranjeiros são afetados no começo do ano por conta do excesso de chuvas. Além disso, vestuário começa a desacelerar passado o início da estação, além do arrefecimento nos preços do algodão, que subiram muito nos últimos meses por problemas de oferta.
Esse comportamento da inflação remete ao que aconteceu no ano passado nessa mesma época, quando alimentação foi responsável por deixar o IPCA próximo de zero por três meses seguidos. A diferença mais preocupante agora é que o restante da inflação continua pressionando.
Em maio do ano passado os serviços acumulavam 6,8% de crescimento em 12 meses e agora estão em 8,5%. É muito mais do que um movimento estrutural e depende de um crescimento de demanda que ocorreu nesse período.
A maior dificuldade em serviços é o elevado grau de inércia, que dificulta trazer esse indicador para a casa dos 5% como estávamos em 2008. Por fim, os preços regulados, que nessa época ano passado estavam em 4,3% estão agora e 6%.
Aqui também a inércia tem um forte componente. Uma inflação elevada este ano, tanto nos IGPs quanto nos IPCs, não ajudam a perspectiva desses preços para o ano que vem também.
Em relação à atividade, parte importante da desaceleração parece que dependerá de fatores exógenos, ou seja, que não estão relacionados à política econômica. Exemplo maior é o tsunami japonês que afetou a indústria doméstica que importa componentes daquele país.
Além disso, as greves nas montadoras também deverão repercutir negativamente nos dados do setor em maio. Nota-se também uma desaceleração de renda real, enquanto a nominal continua em franca expansão, ou seja, a inflação está sendo responsável por conter o crescimento da renda.
Os aumentos esperados nos dissídios do segundo semestre preocupam porque serão discutidos justamente num momento em que o IPCA estará beirando os 7%. Por enquanto, isso significa que o PIB do segundo trimestre deverá crescer menos do que o primeiro (1,1% e 1,3% respectivamente).
Entretanto, no terceiro trimestre esses fatores extras terão desaparecido e tanto a inflação quanto a atividade voltarão a crescer. Cabe ao Banco Central agora continuar em trajetória de aperto monetário e não se enganar pelo canto sedutor dos resultados de meio de ano.
Fonte: Brasil Econômico, 13/06/2011
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