Qual o efeito do fiasco da seleção brasileira na Copa sobre a disputa eleitoral? O tema tem muitas nuances. Ainda assim, à luz do quadro econômico atual e seu impacto sobre a aprovação da presidente, é pouco provável que este evento em si cause um realinhamento mais sensível de expectativas. Diferente dos protestos de junho do ano passado, que foram gatilho para corrigir o alto índice de aprovação do governo vis-à-vis o baixo desempenho da economia, agora os índices de aprovação já são mais compatíveis com a decepcionante realidade.
Como discutido neste espaço em março, foi desenvolvido um modelo econométrico para estimar a aprovação do presidente levando em consideração a taxa de ocupação no mercado de trabalho, o rendimento real dos indivíduos e também as mudanças de confiança dos consumidores. Pelo modelo, o índice de aprovação do governo Dilma antes dos protestos era exagerado. Mesmo posteriormente, passado o susto, os 40% de avaliação positiva do governo no final de 2013 e início deste ano não se sustentariam por conta da piora do quadro econômico. O índice de aprovação acabou convergindo para o patamar sugerido pelo modelo.
Assim, neste momento, com índices de aprovação, em torno de 33%, mais compatíveis com o atual retrato da economia, não haveria razão para maiores ajustes de curto prazo. Se houver, tende a ser passageiro, conjuntural, assim como foi a leve melhora da confiança do consumidor e da aprovação do governo com o início da Copa. E como faltam mais de dois meses e meio para o primeiro turno da eleição, pode-se diluir ou superar uma eventual contaminação da aprovação da presidente.
Isso não significa, no entanto, que a Copa não cobrará sua fatura. Os sinais de baixa atividade econômica durante os jogos, ainda a serem comprovados pelos indicadores econômicos, abalam uma economia já frágil, e podem igualmente contaminar a confiança dos agentes econômicos nos próximos meses. O risco é de agravar o quadro de já reduzida sensação térmica da economia e de falta de perspectiva de reversão ou de quando será possível afirmar que o pior já passou. A inflação teimosa tampouco ajuda. Temos o PIB caminhado para menos de 1% e a inflação que ameaça frequentemente o teto da meta, sendo percebida como acima de 7% pelos consumidores.
O momento do evento esportivo não foi bom para a economia. Não se trata apenas de adiamento de decisões de consumo e produção nas últimas semanas, tal que seja possível uma relevante reativação da economia daqui para frente. Empresas e famílias começaram a enfrentar condições financeiras mais difíceis ao longo do primeiro trimestre, e a baixa atividade econômica na Copa agravou o quadro. Parte do consumo e produção não realizados pode não ter volta.
O risco do lado econômico não dará trégua. Há uma queda em curso da taxa de ocupação que pode se ampliar com a deterioração da situação financeira das empresas, esta medida pela piora dos indicadores de inadimplência do Banco Central e Serasa. Pode haver demissões de trabalhadores, em linha com a piora generalizada da confiança dos empresários dos vários setores. A piora da confiança não é algo impressionista. É calcada nas dificuldades concretas enfrentadas pelos empresários no dia-a-dia.
Com a inadimplência dos consumidores também em alta, a capacidade de consumo das famílias sofre, bem como seu humor. Não é necessária a manchete de jornal anunciando o aumento da taxa de desemprego para o quadro eleitoral ser efetivamente afetado. Basta que se reduza a capacidade de consumo das famílias, e isso já está acontecendo.
A fraqueza da atividade econômica, agravada pela Copa, é risco para a aprovação do governo, ainda que o espaço para recuo seja menor em relação ao passado.
A queda da aprovação da presidente reduz sua competitividade nas eleições, mas, no entanto, não necessariamente aumenta a competitividade da oposição. O desafio dos candidatos da oposição vai além de se tornarem mais conhecidos entre os eleitores. É necessário conquistar os eleitores no desalento e descrentes das instituições políticas, que inflam as estatísticas de votos brancos e nulos.
O eleitor no desalento está mais concentrado nos grandes centros, sendo, portanto, mais sensíveis ao debate econômico. Nesse sentido, dependendo do grau de enfraquecimento da economia adiante, talvez se torne inevitável discutir os problemas econômicos do país na campanha eleitoral. Tema evitado por todos, seja pela incumbente para evitar o reconhecimento de erros, seja pela oposição para evitar o desgaste de ser portador de más notícias.
Problemas verdadeiros na economia requerem mudanças de política econômica à altura dos desafios. E para fazer os necessários ajustes é recomendável discutir com a sociedade antes das eleições, sob pena de falta de legitimidade para implantar a futura agenda.
Diante da fragilidade da economia e do risco de avanço do sentimento de falta de perspectivas, os eleitores podem não compreender a apatia dos candidatos, caso seja mantido o discurso que ignora as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, levando a um fiasco nas urnas.
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