O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse, no 3º Fórum Mundial da Aliança de Civilizações das Nações Unidas, que o governo está insatisfeito com o tratamento dado aos brasileiros por autoridades de imigração de outros países.
Segundo ele, todos os dias recebe informações de que cidadãos brasileiros “sofrem constrangimentos, maus-tratos e prisões” quando tentam ingressar ou permanecer em outros países.
O ministro advoga uma nova visão sobre os brasileiros no exterior baseada em reciprocidade.
Ainda no evento, Barreto afirmou que “o Brasil tem hoje uma política de imigração coerente com sua história, já que somos um país formado por migrações”.
A postura do ministro é coerente com a nossa história. Porém, logo o Brasil terá que rever e robustecer seu posicionamento com relação à política de imigração. A razão é clara: estamos em um ciclo de desenvolvimento em um continente cercado de problemas econômicos e políticos.
Com a economia em alta, o desemprego em baixa e a crescente necessidade de mão de obra capacitada, o Brasil vai ter que atrair profissionais qualificados dos países vizinhos.
No entanto, além de profissionais qualificados, virão outros nem tanto. De exportadores de mão de obra, vamos nos transformar em importadores. Milhares de brasileiros que trabalhavam no exterior já estão retornando e outros tantos virão na esteira do crescimento.
Estima-se que quase 500 mil bolivianos moram no Brasil. A maioria em condições irregulares. Vivem de subemprego e são explorados, pressionando os serviços públicos e disputando o mercado de trabalho. Com o boom econômico, o número pode aumentar.
Lamentavelmente, o tema não está na agenda política. Assim, antes de sofrer com fluxos de imigrantes desqualificados, o Brasil deve buscar tratar a questão de forma estratégica. Pensar estrategicamente é olhar a questão em um contexto econômico, social e geopolítico.
Não nos interessa o subdesenvolvimento nem a instabilidade econômica de nossos vizinhos. Devemos ter políticas que visem transformar a região em um polo dinâmico de desenvolvimento econômico e social e que permitam que o nosso desenvolvimento sirva para alavancar o progresso da região.
Não podemos repetir o erro dos americanos de deixar o seu entorno latino-americano patinando na miséria e na pobreza e, em consequência, pressionando o país com ondas de imigrantes ilegais. Nem adiantará construir muros, como os que separam os Estados Unidos do México.
Nossas fronteiras são muito maiores e mais complexas de serem protegidas de ondas de imigrantes ilegais.
Não sei as respostas para tais desafios. Porém, me preocupa, sobretudo, saber que o assunto é pouco debatido. Não existe uma agenda estratégica para tratar do tema. Falta, também, integração dos vários organismos do governo para pensar a questão.
Tanto da necessidade que teremos de mão de obra qualificada, quanto do possível aumento da imigração ilegal para o Brasil. Ambas questões são essenciais para o nosso futuro e merecem uma séria reflexão.
Fonte: Jornal “Brasil Econômico” – 08/06/10
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