Continua mal o comércio exterior brasileiro, com déficit de US$ 224 milhões em outubro e saldo negativo de US$ 1,83 bilhão no ano, mas a pior notícia sobre a balança comercial é outra: o governo ainda se recusa a admitir a gravidade dos problemas e insiste em tratá-los como passageiros. Desta vez, o resultado mensal foi prejudicado por um aumento excepcional das importações de petróleo, causado por dificuldades temporárias da Petrobrás. Em outros meses, as contas foram afetadas pelo atraso no registro de importações, também de combustíveis, realizadas em 2012. Sempre se pode, é claro, ir um pouco mais longe e atribuir os números desfavoráveis à crise internacional e ao recuo das cotações das commodities.
Divulgadas as contas de outubro, as explicações oferecidas à imprensa pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, seguiram o padrão habitual. Os problemas ficarão para trás e o saldo de 2013 ficará no azul. É até possível. Se o país acumular no último bimestre um superávit maior que US$ 1,84 bilhão, o resultado geral dos 12 meses será positivo. O saldo de dezembro tem superado com frequência US$ 2 bilhões nos últimos anos. Se isso ocorrer mais uma vez, o comércio de mercadorias estará novamente no azul e tudo voltará – esta parece a opinião oficial – ao melhor dos mundos. Mas voltará?
Só haverá motivo para algum otimismo quando o governo reconhecer a dimensão efetiva dos problemas do comércio exterior e começar a agir para resolvê-los. Esses problemas vão muito além de dificuldades ocasionais. No caso da Petrobrás, é inegável o fiasco dos planos de produção. Poucos anos depois de anunciada festivamente a autossuficiência, o país continua dependente da importação. Importar pode ser uma condição normal para uma economia próspera e bem administrada, mas os problemas no setor de petróleo são consequências de erros indisfarçáveis de política econômica e de administração empresarial – a começar pelo desastrado controle de preços.
Pelo menos tão importante quanto isso é o enfraquecimento do setor industrial – a mais visível consequência da perda de produtividade da economia brasileira. A ineficiência crescente da produção está refletida tanto nas dificuldades de exportar quanto no aumento da importação. Esse aumento abrange muito mais que petróleo e derivados.
De janeiro a outubro o valor total da exportação, US$ 200,47 bilhões, foi 1,4% menor que o de igual período do ano anterior. O valor da importação, US$ 202,30 bilhões, foi 8,8% superior ao dos meses correspondentes de 2012. O saldo acumulado em dez meses no ano passado, de US$ 17,35 bilhões, foi substituído por um déficit de US$ 1,83 bilhão.
A importação de combustíveis e lubrificantes aumentou 23,1% nessa comparação, mas o valor adicional, de US$ 6,64 bilhões, explica só em parte o aumento das compras totais no exterior. O gasto com matérias-primas e bens intermediários aumentou US$ 6,36 bilhões de um ano para outro e isso tem forte relação com problemas de competitividade. O acréscimo de compras de bens de capital e de bens de consumo adiciona mais US$ 4,29 bilhões a essa conta.
Além do mais, as vendas de plataformas para extração de petróleo, o item número um na lista da exportação de manufaturados, renderam US$ 4,75 bilhões, pouco mais que os embarques de automóveis de passageiros (US$ 4,56 bilhões). Mas os automóveis foram de fato vendidos e mandados ao exterior. As plataformas nunca saíram do Brasil, porque a sua venda foi só uma operação contábil com fins tributários. O valor da operação foi 500% maior que o de igual período de 2012.
Não se pode reduzir a evidente piora do comércio exterior a uma soma de problemas temporários da Petrobrás. Mesmo acrescentando-se uma referência às condições internacionais, esta ainda será uma tentativa inútil de enfeitar um cenário muito ruim. Os problemas são muito mais graves e resultam de erros políticos acumulados em vários anos.
Fonte: Estado de S.Paulo
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